O processo de análise de ativos possui diversas técnicas e metodologias, isso ocorre porque seguir um roteiro de avaliação nem sempre é fácil ou conhecido pelas pessoas. Dentre diferentes técnicas, todas elas objetivam identificar boas oportunidades de investimento. Nesse sentido, a abordagem top down é muito utilizada entre os analistas de ativos.
Analisar um ativo pode não ser uma tarefa tão simples quando não se tem tanto conhecimento sobre o assunto. Criar um roteiro analítico que seja capaz de realmente trazer os principais insights da organização pode ser um grande desafio.
Assim, a abordagem top down funciona como um roteiro de análise que direciona por onde começar a análise e os principais direcionamentos em sua prossecução. Em contraponto ao Top Down, existe o Bottom up, abordagem que inverte a lógica determinada no top down.
Além de ser usada no universo dos investimentos, estas abordagens podem ser utilizadas para direcionar a gestão de empreendimentos, sendo aplicado a diferentes contextos.
Veremos mais detalhes sobre top down e como se diferencia do bottom up.
Basicamente, top down significa “de cima para baixo”. No universo das decisões de investimento, top down significa olhar um determinado ativo de cima para baixo, ou seja, o investidor inicia a análise por fatores macroeconômicos antes de trabalhar com as questões específicas das empresas individualmente.
O objetivo é visualizar o “quadro geral”, para entender como os fatores macroeconômicos impulsionam os mercados e, finalmente, os preços das ações.
Além do uso atrelado a análise de investimentos, existe ainda o uso desse termo na gestão de empresas. A lógica “de cima para baixo” é a mesma, porém aplicada às decisões empresariais. Assim, todas as decisões estratégicas seriam realizadas no alto nível da hierarquia e repassadas para os liderados.
Nesse sentido, dentro do âmbito empresarial, o top down seria uma cultura onde a alta liderança direciona todas as perspectivas da organização, como uma espécie de cascata.
Ou seja, ao tomar decisões relativas à organização ou a um projeto, os líderes repassam isso para os outros membros da empresa que manterão estas decisões sem possuir participação sobre elas.
Sobretudo, focando no lado da análise de investimentos, o top down foca em aspectos macro na determinação de um ativo como sendo uma boa oportunidade.
Assim, fatores como o cenário macroeconômico do país analisado, índices macroeconômicos, política monetária, economia local e efeitos políticos, são potenciais pontos de partida para a análise dos ativos escolhidos, e, dado o cenário econômico desenhado, qual seriam os setores beneficiados.
Por exemplo, alguns analistas iniciam estabelecendo sobre a saúde de uma economia através do top down, observando seu Produto Interno Bruto (PIB) e partindo para outras premissas de análise.
No Brasil, o investidor pode analisar a trajetória do crescimento do PIB nacional por meio dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do Banco Central, em especial o relatório Focus.
Assim, a depender da situação que o país se encontre, o analista ou investidor pode considerar que o país se encontra com uma perspectiva de crescimento e isso tenderá a ser refletido no preço das ações.
Sobretudo, vale salientar que não existe exatamente uma regra de como ou pode onde começar a análise top down. O importante é se atentar ao aspecto macroeconômico primeiramente e após isso ir restringindo a análise em um número menor de ativos..
Assim, a estratégia top down consegue direcionar a tomada de decisão, indicando as melhores empresas que se beneficiarão pelo cenário estimado, sendo identificadas como oportunidade.
Como vimos, o top down é uma abordagem que faz as averiguações das informações de cima para baixo. Em contraponto a ela, existe o Bottom Up, que é uma abordagem de investimento que se concentra na análise de ações individuais e não enfatiza a importância dos ciclos macroeconômicos e dos ciclos de mercado.
Nesta abordagem, o investidor concentra sua atenção em uma empresa específica e em seus fundamentos, e não no setor em que a empresa opera ou nas tendências macro. Essa abordagem pressupõe que algumas empresas podem apresentar bons resultados, mesmo atuando em setores menos favorecidos.
No bottom up uma das principais características diz respeito ao fato dela focar somente em uma ou uma menor quantidade de empresas, partindo para uma análise mais detalhada.
Nesse sentido, para aqueles que não querem basear as suas decisões de maneira exclusiva nos fatores macroeconômicos, por exemplo, conseguirão aplicar mais tranquilamente a abordagem do bottom up.
Dessa forma, o bottom up é muitas vezes mais utilizado por investidores individuais que empregam estratégias de longo prazo, como o Buy & Hold. Isso se dá ao fato de que uma abordagem de baixo para cima para o investimento fornece ao investidor um entendimento profundo de uma única empresa e suas ações.
Trazendo os conceitos para a área de gestão empresarial, o bottom up é o inverso do proposto no top down. Aqui, a hierarquia é menos evidenciada, pois há maior espaço para que os liderados deem suas opiniões para construção de um determinado projeto ou gestão como todo.
Sendo assim, diferentemente do top down, o bottom up trabalha numa linha horizontal, valorizando a opinião dos funcionários independentemente de seu cargo ou senioridade. Além disso, muitos consideram que esta metodologia de gestão é interessante por despertar o lado criativo dos colaboradores, tirando-os da zona de conforto por solicitar respostas e resoluções para situações que geralmente estão mais alocadas na alta gestão.
Sobretudo, é válido ressaltar que isso não implica dizer que as decisões serão tomadas pelos funcionários. Na verdade, a ideia aqui é a de construção e colaboração. As opiniões se convertem em ideias que são validadas ou não pela alta gestão. Ou seja, traz muito mais a ideia de incorporar opiniões além dos membros da alta hierarquia organizacional.
Seja no âmbito das decisões de investimento ou no âmbito organizacional, pode haver dúvidas com relação a qual seria a melhor metodologia a ser adotada. Entretanto, não há uma resposta exatamente correta e a escolha entre top down e bottom up depende de vários fatores.
Olhando pelo lado dos investidores, a escolha entre uma das duas abordagens depende diretamente de aspectos de preferência e de maior inclinação. Por exemplo, aquelas pessoas que possuem uma formação mais direcionada para fatores econômicos e querem entender mais a fundo o cenário macro, podem optar pela top down.
De forma contrária, para aqueles que desejem estar mais alocados em análises específicas dado sua limitação de conhecimento sobre o cenário macro ou qualquer outro fator, pode optar pelo bottom up como alternativa.
Além disso, a depender da estratégia que você esteja visando, é interessante ver a que mais se encaixa, podendo ambas as análises serem feitas ao mesmo tempo e gerar complementariedade. Por exemplo, se você estiver pensando na construção de um patrimônio de longo prazo, suas propensões serão diferentes daqueles voltados para o day trade ou swing trade.
Assim, a definição de qual abordagem é melhor diz respeito a fatores pessoais e de preferência do analista (ou investidor), sendo imprescindível que cada indivíduo observe seus preceitos e assim defina.
Ademais, uma outra estratégia interessante diz respeito a mescla dessas duas abordagens, dado que de forma indireta elas poderiam se complementar.
Assim, o top down seria utilizado como uma forma de averiguar todos os aspectos econômicos do país, sendo uma arcabouço de informações gerais. E, em aditivo, o bottom up traria a análise específica da empresa ou setor, identificando os principais pontos relativos às organizações de forma particular e contrapondo com informações gerais advindas do top down.
Assim, não existe uma abordagem única adequada para todos os investidores, e a decisão entre investimentos Bottom-Up ou Top-Down é, em grande parte, uma questão de preferência pessoal, podendo, inclusive, serem usadas conjuntamente. Assim, depende de como o investidor se sente mais confortável em analisar as ações.
Dessa forma, não adianta escolher a abordagem Top-Down, se a análise macro for feita sem capricho. Da mesma forma, não é adequado usar a Bottom-Up se não for feito um estudo minucioso das empresas que se pretende investir. Por fim, o investidor deve ponderar não só a escolha de indicadores, métricas e abordagens, como também a sua capacidade técnica para aplicá-las.
Do ponto de vista da gestão organizacional, a aplicação do top down pode criar silos organizacionais. Assim, as decisões podem estar diretamente e unicamente atreladas a alta gestão, inibindo a participação de outros agentes importantes.
Essa discrepância pode ser ainda mais maléfica se as decisões forem tomadas desconsiderando a realidade dos liderados que serão afetados direta ou indiretamente pelas decisões da alta gestão. Assim, o top down pode reprimir a criatividade dos funcionários e afetar negativamente o sentimento de bem estar e pertencimento.
Por outro lado, o bottom up tende a valorizar a opinião do colaborador, principalmente observando sua realidade trabalhista e a capacidade de opinar sobre diferentes assuntos. Nesse sentido, um dos grandes benefícios do bottom up está relacionado com a expansão da criatividade e proatividade dos funcionários. Afinal, todos querem se sentir verdadeiramente ouvidos.
Além disso, ao permitir que diferentes pessoas com diferentes pontos de vista opinem sobre assuntos mais complexos, é possível instigar talentos anteriormente silenciados pela falta de oportunidade de fala
Para realizar o top down na análise de investimentos, é essencial que se tenha conhecimentos sobre economia, principalmente sobre macroeconomia. Isto porque, como dito, será necessário estabelecer o que se considera como bom ou ruim a partir das premissas de um determinado país.
Vale salientar que a macroeconomia dos países depende de diversos fatores próprios e por vezes, não é possível replicar um modelo com a expectativa de que surta os mesmos efeitos. Logo, cada país e economia terá diferentes meios mais assertivos de se analisar, principalmente ao usar a abordagem top down.
Sobretudo, a caráter explicativo, o top down é realizado nas seguintes etapas:
a) Perspectiva de crescimento: num cenário positivo, é mais fácil de fazer investimentos mais arriscados e agressivos, levando em consideração a oportunidade do momento de gerar patrimônio;
b) Perspectiva de retração: neste cenário, o decrescimento do país é sinônimo de risco e necessidade de proteção. Assim, poderão ser feitos investimentos com foco defensivo, com propensão a resguardar o patrimônio de eventuais perdas.
Para efeitos de explicação, também podemos traçar um passo a passo de como seria feito a estruturação de uma análise bottom up:
A prioridade, independente da estratégia adotada, o investidor tenderá a buscar por empresas que apresentam forte perspectiva de crescimento futuro (usando métricas de rentabilidade), com boa saúde financeira (usando métricas de endividamento e liquidez), e com ações cotadas por um preço justo ou em barganha (por meio de métricas de valor, ou valuation), pois em tese, representam boas empresas para se investir.
Sobretudo, a análise bottom up não te obriga a achar empresas com crescimento ou com boa saúde financeira, sendo uma estratégia para te guiar na análise para entender o que a empresa se propõe a fazer e o que ela está entregando.
Assim, uma coisa importante é arbitrar o consenso, por exemplo, se todo mundo acha que a empresa está muito alavancada e vai quebrar e você não acha, dá para ganhar dinheiro com isso.
Dessa forma, no bottom up, algumas identificações que podem ser feitas são:
Por fim, identificamos que o top down é um abordagem que pode ser utilizada em diferentes contextos, em especial se tratando de análise de investimentos e gestão de empresas.
Basicamente, analisar em top down significa olhar de cima para baixo, estabelecendo estratégias macro que levem ao micro e consequentemente, decisões.
Em contrato ao top down, existe o bottom up, estratégia que visa analisar e propiciar decisões olhando de baixo para cima, estabelecendo questões mais específicas da organização.
Por fim, dado às duas abordagens, elas podem ser usadas isoladas ou conjuntamente, a depender da preferência do tomador de decisão (seja um investidor ou gestor organizacional).