Estudar e entender a ciência econômica pode ser uma tarefa um tanto complicada. A economia possui várias facetas e campos de estudo. Para facilitar o entendimento, o famoso economista Gregory N. Mankiw, sintetizou em seu livro os 10 principais princípios da economia. No post de hoje, iremos mostrar o que dizem cada um desses princípios.
Boa leitura!
Para melhor expor os “10 princípios da Economia”, Mankiw resolveu dividi-los em três categorias:
Os quatro primeiros princípios da economia dizem respeito a como as pessoas tomam decisões, um tema ainda hoje bastante discutido pela microeconomia e pela economia comportamental.
O primeiro princípio da economia, trata de como as pessoas tomam decisões baseados na ideia de que “não existe almoço grátis”, ou seja, tudo tem um custo. Para se ter algo que queremos muito, normalmente temos que desistir de outras coisas que também gostamos.
Assim, o primeiro princípio pode ser resumido em: “As pessoas enfrentam tradeoffs". Ou seja, enfrentam conflitos de escolha.
O segundo princípio da economia vai falar que, ao fazer uma escolha racional, uma pessoa compara os custos e benefícios de cada uma das opções está a sua disposição. Contudo, nem toda decisão envolve custos e benefícios como valores monetários, sendo por vezes mais difícil de visualizar os custos envolvidos.Vamos imaginar que você seja um discente de economia em uma instituição de ensino pública. Como o ensino é gratuito, você pode pensar que estuda “de graça”, o que obviamente não é uma verdade.
Além dos custos com transporte e material, há um custo ainda maior: o tempo.Nesses quatro ou cinco anos, você poderia estar cursando outra graduação que te daria um benefício muito maior no futuro. A esse custo aparente ou não damos o nome de custo de oportunidade.
O custo de oportunidade de um bem é tudo aquilo que você abre mão para obtê-lo. No exemplo da graduação acima, poderíamos considerar que para cursar economia você abriu mão de quatro ou cinco anos de graduação em todos os outros cursos.
Quando você vai correr, por exemplo, a decisão não é sobre correr 1km ou 3km, mas sim sobre correr um metro a mais ou a menos - principalmente quando se está cansado. Esse princípio da economia é justamente sobre o fato de que pessoas racionais pensam em mudanças “marginais”. As decisões são sempre sobre: correr ou não um metro a mais, ler ou não uma página a mais, estudar ou não um minuto a mais.
Pense que você tem um filho ou um irmão mais novo que não quer fazer a tarefa de casa. Ele não quer fazer porque o custo de fazer a tarefa é maior que o benefício de fazê-la - baseado em suas próprias preferências.Agora, supondo que ele gosta muito de um jogo online, o que aconteceria se você oferecesse uma certa quantidade de créditos no jogo por cada tarefa resolvida? A vontade de fazer a tarefa certamente seria outra, não é mesmo?
Isso acontece porque ele, assim como qualquer outra pessoa, reage a incentivos. E os incentivos estão presentes desde exemplos mais simples como esse até em grandes políticas públicas.
Os quatro primeiros princípios da economia são sobre como as pessoas tomam decisões - ou fazem escolhas. Porém, à medida que realizamos escolhas, nossas decisões acabam por afetar também outras pessoas. Os próximos três princípios da economia dizem respeito a “como as pessoas interagem”.
Pode parecer óbvio, mas sim, o comércio pode ser positivo para todas as partes envolvidas.
O comércio internacional não é uma competição onde apenas um lado ganha e outro perde, mas sim uma porta para que cada país possa se beneficiar focando na produção do que tem de melhor. Isso só é possível porque mesmo que um país seja melhor na produção de todos os bens, um outro pode se especializar na produção de apenas um e assim possuir uma melhor razão de produtividade (vantagem comparativa), o que tornaria o comércio entre os dois países viável e benéfico.
Outro ponto evidente de notar, é que as economias são bem organizadas em mercados. Mas o fato é que nem sempre foi assim.
Na União Soviética, os países comunistas organizaram suas economias através de um planejador central. Esse planejador decidia quais bens e serviços seriam produzidos com a premissa de que o governo poderia organizar toda a atividade econômica e, assim, gerar bem estar para o país.Com o tempo, viu-se que a planificação da economia não funcionou e, com isso, a maioria dos países passou a adotar economias de mercado. Em uma economia de mercado, as decisões do planejador central são substituídas pelas decisões de milhares de agentes e firmas. As firmas decidem quem contratar e o que produzir, e os agentes decidem onde trabalhar e o que consumir. O resultado é que a atuação de ambos - motivada por interesses individuais - acaba por aumentar o bem estar social, principalmente se compararmos com economias planificadas.
Apesar de serem uma boa maneira de organizar a atividade econômica, os mercados não estão imunes de falhas. A interferência do governo pode ser útil principalmente quando o mercado falha em alocar os recursos de forma eficiente.
O exemplo mais claro é o caso das externalidades, onde a ação de uma firma ou agente buscando seus próprios interesses acaba por prejudicar outros agentes.
Pense em uma indústria que produz perto de um rio e gera poluentes. A produção gera lucro e beneficia a empresa, mas ao mesmo tempo polui o rio e prejudica a população, principalmente se houver população ribeirinha. Para corrigir essa falha de mercado, o governo pode intervir para desestimular a poluição por parte da empresa, fazendo com que o custo social da produção nesse caso diminua.
Até aqui, os princípios da economia trataram sobre como as pessoas tomam decisões e sobre como as pessoas interagem em uma economia. Agora, veremos mais três princípios da economia sobre como ela funciona como um todo, bastante presentes na macroeconomia.
Você já se perguntou por que um trabalhador do mesmo nível ganha mais (em média) nos Estados Unidos do que no Brasil? De forma simples, por conta da diferença de produtividade média entre os dois países.
Apesar dos dois trabalhadores muitas vezes trabalharem o mesmo número de horas, um deles produz bens de maior valor (para sua economia) e por isso ganha mais. Em suma, pode-se dizer que, no agregado, o padrão de vida de um país está diretamente correlacionado com a sua capacidade de produzir mais bens no menor tempo possível.
Uma das perguntas mais bobas que nos fazemos sobre a economia é: “Por que o governo não imprime dinheiro e deixa todo mundo rico?”.
Bom, porque ao aumentar a oferta de moeda (imprimir dinheiro), o dinheiro perde valor e os preços aumentam. Se todos os indivíduos de uma sociedade tem R$1 milhão na conta, o preço do pão, por exemplo, não poderia ser mantido em R$1,00.
Agora vamos ao último princípio da economia nesse artigo.
Que a inflação é o aumento generalizado dos preços de uma economia você já deve saber. Mas, qual a relação da inflação com a taxa de desemprego?
Há uma curva, polêmica, chamada de curva de Phillips que busca estabelecer a relação - ou tradeoff - entre a inflação e o desemprego. Apesar dos debates e controvérsias acerca da curva, os economistas concordam que sim, há um tradeoff de curto prazo entre desemprego e inflação. Ou seja, não há como o governo aumentar a oferta de moeda em circulação e reduzir o desemprego sem que isso cause inflação no curto prazo. E isso acontece por conta de alguns preços se ajustarem devagar, ou seja, possuírem rigidez.
Em grande parte dos cursos de graduação em economia, os “10 princípios da economia” são os primeiros conteúdos de teoria econômica que aprendemos. Eles servem de base para o entendimento de diversos fenômenos econômicos mais complexos e reaparecem também em outros campos de estudo da ciência.
Apesar disso, esses princípios não são imunes a críticas ou questionamentos, sendo vários deles questionados pelas mais diversas linhas de pensamento econômico. Em suma, os 10 princípios da economia são uma boa introdução ao pensamento ortodoxo, que domina o “mainstream econômico” atualmente.
MANKIW, N. G. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2015.