Olá, caro investidor(a)! Você já ouviu falar em carry trade? No artigo de hoje, vamos abordar como funciona esse tipo operação e por quê ela é tão popular em mercados emergentes, especialmente no Brasil. Para facilitar sua leitura, o texto foi dividido em:
O carry trade é uma operação que envolve tomar dinheiro emprestado em um país com baixas taxas de juros e investir em um ativo de outro país com uma taxa de retorno superior.
Geralmente, envolve a conversão de uma moeda que possui uma baixa taxa de juros em outra com uma taxa maior. A operação ainda pode envolver outros ativos, como ações, commodities e títulos.
Depois da crise do subprime, países da Europa e os Estados Unidos reduziram drasticamente suas taxas de juros, o que incentivou especuladores a tomar empréstimos nas moedas desses países.
Por outro lado, países emergentes como a Turquia, o Brasil e a África do Sul, tinham altas taxas de juros, o que atraiu investimentos nesses países (principalmente em títulos públicos).
Em paralelo, alguns operadores passaram a pegar dólar e euro emprestados e comprar moedas de países emergentes, buscando ganhar através da diferença entre as taxas de juros. Com o fluxo, os operadores ganharam não só na diferença entre as taxas de juros, como também na apreciação das moedas emergentes. O Real, por exemplo, valorizou cerca de 40% entre 2009 e 2011.Em suma, o carry trade se baseia em “carregar” ou “levar” investimentos de um país com uma taxa de juros maior, sendo financiados por uma moeda de uma taxa de juros menor
Como dito anteriormente, o carry trade contribuiu para apreciação do Real frente a moedas de países desenvolvidos como o dólar e o euro. O problema é que quando a moeda brasileira é apreciada, empresas exportadoras perdem competitividade frente a alguns concorrentes. Empresas de menor porte também perdem uma fatia do mercado e a demanda (no agregado) acaba por diminuir.
Com a desaceleração da demanda, o país também tem seu crescimento desacelerado. Para tentar conter o fluxo estrangeiro, - parte do Carry Trade - o Brasil chegou a tentar taxar a entrada do capital estrangeiro no país, o que não funcionou.
Mais recentemente, entre o final de 2021 e começo de 2022, o cenário de uma década atrás quase se repete. Os Estados Unidos e a Europa, com taxas de juros baixíssimas devido a pandemia do COVID-19, e o Brasil, com taxas de juros acima dos dois dígitos para tentar controlar a inflação - causada também pela escalada dos preços das commodities.
O carry trade feito por investidores estrangeiros retornou, o que ajudou a atrair capital e apreciar o Real em cerca de 20% em alguns meses, saindo de R$5,70 até R$4,61 enquanto escrevo esse texto.
Em fevereiro deste ano (2022), a estratégia de carry trade entre Estados Unidos e Brasil - empréstimo em dólar para comprar reais - gerou um retorno aproximado de 8%, com a moeda brasileira sendo a que melhor performou entre todas no ano.
Imagine dois países, um país A, desenvolvido com uma taxa de juros anual de 2%, e um emergente B, com uma taxa de juros de 11% ao ano. Pode parecer óbvio fazer um carry trade, tomando empréstimo no país A e investir no país B. O problema é que o país B não possui uma taxa de juros de 11% a.a. à toa. Países emergentes possuem insegurança jurídica, política e institucional muito maior do que os países desenvolvidos. Isso acaba refletindo na taxa de juros.
A taxa de juros de um país emergente é maior porque o risco de se investir nele é maior. Assim, o principal risco de se fazer um carry trade é a moeda do país emergente desvalorizar, o que não é tão incomum.
Além disso, operações de carry trade, por visarem uma diferença entre taxas de juros, acabam envolvendo montantes financeiros muito altos, sendo mais apropriadas para investidores institucionais ou investidores com um grande volume financeiro.
Apesar de ter ganhado popularidade na década passada, o carry trade é uma estratégia utilizada desde o começo do século 20 (GAULARD, 2012). Na época, ainda de forma tímida, o capital se deslocava de países com altas taxas de poupança, como a França, e se dirigia para centros financeiros com taxas de juros mais atrativas, como os Estados Unidos, Rússia e a América Latina.
Na década de 1990, a operação voltou à tona por conta das baixas taxas de juros do Japão. Os especuladores tomavam empréstimos em Yen para investir nos Estados Unidos e em outros países situados na Ásia.
As baixas taxas de juros japonesas tornavam o Yen a principal moeda utilizada para se realizar empréstimos. Com a crise do subprime e a política de Quantitative Easing, o dólar americano tornou-se a principal moeda de empréstimo para as operações de carry trade. Dentre as principais moedas “alvo” para a operação, estavam o Real, o Rublo russo e o Rand sul-africano.
Apesar de ser apenas uma das operações em bolsa, o carry trade é muito importante para o movimento das moedas dos países emergentes. O fluxo advindo desse tipo de operação já beneficiou a moeda de países como a África do Sul, a Rússia e o próprio Brasil.
A operação, ainda que não tão complexa, possui riscos, tanto do lado da moeda em que se toma um empréstimo, quanto pelo lado da “moeda alvo”. Sendo assim, uma operação mais apropriada para investidores experientes e/ou institucionais.
Gaulard, M. (2012). The "hot money" phenomenon in Brazil. Brazilian journal of political economy, 32(3), 367-388.