Por Juliana Machado
O fortalecimento operacional do IRB (IRBR3) já levou os papéis da líder em resseguros no Brasil a acumularem alta de 71% desde o começo deste ano na bolsa até ontem, com espaço para a continuidade de ganhos adiante, na opinião de gestores com posição na ação e analistas ouvidos pela Mover. A visão, porém, não é consensual – e os riscos de prêmios menores e resultados piores ainda mantêm a cautela elevada entre os céticos com o futuro da companhia.
Os papéis ordinários do IRB ocupam o quarto lugar entre os que mais tiveram valorização em 2023, atrás apenas de YDUQS, Cyrela e Eztec. Por trás do bom desempenho das ações está a leitura de que a companhia vem avançando na melhoria da sua rentabilidade, em especial após o novo comando de Marcos Falcão, executivo escolhido para a presidência em novembro de 2022 e egresso da Icatu Seguros.
Segundo os gestores da Solana Capital, asset independente que tem posição no papel, este foi o primeiro semestre sob comando do novo CEO, que promove uma mudança radical na empresa visando trazê-la de volta à lucratividade. O time destacou que segue confiante com a nova gestão do IRB e estima revisões de alta do lucro, o que deve levar à reprecificação das ações.
Na última quarta-feira, as ON do IRB avançaram 11,86% e lideraram os ganhos do Ibovespa. O motivo foi a divulgação de um relatório do Citi em que o banco elevou a recomendação da ação de “venda” para “neutra”, citando justamente o fato de a companhia ter “começado a dar os primeiros passos” rumo ao progresso na rentabilidade.
Na análise do Citi, o nível de suficiência de capital do IRB tem melhorado e deve, portanto, preocupar menos de agora em diante. “Combinado com uma mensagem mais positiva da administração em relação à rentabilidade e ao crescimento de médio prazo, não vemos motivos suficientes para permanecer ‘vendido’ agora”, diz um trecho do material.
Nem todos, porém, partilham da mesma visão, ainda que reconheçam os avanços administrativos da empresa até aqui. Segundo o gestor de um grande fundo de ações que chegou a ter posição vendida – isto é, que ganha com a queda do papel – em IRB, a companhia vem reduzindo o seu tamanho e combatendo o prejuízo, “mas está longe de ter lucro relevante ou voltar a crescer”.
“A empresa continua no processo de controle de danos e, para iniciar uma nova etapa, que não é simples, provavelmente irá precisar de um novo aumento de capital”, afirmou o profissional, que continua acompanhando a empresa, mas não decidiu montar posições estratégicas no papel por ora.
Logo que o IRB reportou o balanço do segundo trimestre, na última terça-feira, os analistas do BTG Pactual notaram que “há luz no fim do túnel” com os números da empresa, mas, ainda assim, observaram que os papéis “já foram longe demais” na alta e superaram os fundamentos.
“IRB está encolhendo, com ‘prêmios’ [prestação paga pelo segurado] significamente menores, o que é negativo para os números de ‘underwriting’ [diferença entre os prêmios e as despesas com sinistros] e porque prejudica sua capacidade de gerar e reinvestir prêmios e resultados financeiros”, diz um trecho da análise do BTG, assinada por Eduardo Rosman, Thiago Paura e Ricardo Buchpiguel.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 11H21, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.