Por: Gustavo Boldrini
A Hapvida anunciou na noite de segunda-feira uma operação para levantar R$1,25 bilhão por meio da venda e posterior locação de 10 imóveis de propriedade da companhia, além da contratação de bancos para estudos sobre uma potencial oferta subsequente de ações (follow-on), com o objetivo de fortalecer sua estrutura de capital e liquidez.
Em comunicado, a maior operadora de saúde do país informou que a família Pinheiro, sua controladora, se comprometeu a aportar R$360 milhões no follow-on, que pode levantar cerca de R$1 bilhão. A Hapvida engajou os bancos Bank of America, UBS, Itaú BBA e BTG Pactual para viabilizarem a oferta.
Sobre a operação para captar recursos com imóveis, conhecida como "sale & leaseback" (SLB), a Hapvida afirmou que o fundo LPAR, também da família Pinheiro, teve a melhor proposta após um processo de concorrência com cinco outros interessados nos ativos. A operação envolverá 10 imóveis de propriedade de controladas da empresa.
Os anúncios devem ajudar a reduzir os receios do mercado em relação à liquidez da Hapvida, que passa por um processo de integração com a NotreDame Intermédica após a fusão entre as duas empresas concluída no ano passado.
O pessimismo quanto à capacidade da companhia de honrar passivos no curto prazo tem se refletido na ação ordinária (HAPV3) da Hapvida, que derrete 56% desde o início do ano. Analistas do Itaú BBA disseram em relatório, em 12 de março, que um aumento de capital "poderia aliviar o atual cenário, ao assegurar que a companhia poderá honrar todas suas obrigações de curto prazo".
Em comunicado na noite de ontem, a operadora de saúde disse que as operações de SLB e follow on anunciadas, "com a expressiva participação de Família Pinheiro, demonstram o comprometimento da companhia e a convicção dos controladores e atuais administradores da Hapvida na resiliência de seu modelo de negócios".
"Essa postura da administração evidencia, também, sua visão conservadora em relação à liquidez e endividamento da companhia", acrescentou a empresa.
O acordo de SLB anunciado pela Hapvida prazo de locação dos imóveis vendidos por 20 anos, renováveis, e opção de recompra pela companhia em condições pré-determinadas.
Em relatório, os analistas Gustavo Miele e Emerson Vieira, do Goldman Sachs, disseram que a operação pode levar a uma possível revisão para cima na orientação de sinergias relacionadas à fusão com o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI).
Eles também acreditam em uma potencial normalização – no curto prazo – do desempenho do “medical loss ratio” da Hapvida, um indicador de sinistralidade conhecido pela sigla em inglês MLR. Por outro lado, um cenário macroeconômico mais fraco daqui para a frente pode representar um risco para a companhia.
“Se a taxa de desemprego acelerar, o ambiente para adições líquidas de beneficiários para a empresa provavelmente ficará mais difícil”, afirmaram. O banco estabelece recomendação “neutra” para os papéis da companhia, com preço-alvo de R$4,00.
Em relatório, os analistas Caio Moscardini e Guilherme Gripp, do Santander, acreditam que a negociação anunciada ontem deve diminuir as preocupações recentes relacionadas à alavancagem e solvência regulatória, e podem impactar positivamente o lucro por ação da Hapvida.
Eles também enxergam certa volatilidade em relação ao indicador de sinistralidade, mas esperam que os aumentos de preços permaneçam e melhorem gradualmente o MRL ao longo de 2023. O Santander estabelece recomendação “outperform”, equivalente a compra, para os papéis da companhia, com preço-alvo de R$ 7,00.
Por volta das 13h53min, as ações da companhia saltavam 19,37%, a R$ 2,65.