Por Luciano Costa
O custo de novos projetos de energia renovável estabilizou-se em novo patamar, mais elevado, com a demanda aquecida mantendo a pressão sobre o setor após uma disparada de custos vista depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, disse à Mover a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Gannoum.
Companhias de geração eólica têm relatado saltos de 30% a 40% no orçamento necessário para colocar de pé uma nova usina, na comparação com 2020, e empreendedores solares enfrentaram aumentos até maiores, que chegaram a 60%, devido ao impacto de interrupções na cadeia global de fornecimento de equipamentos e serviços.
"Vamos ter que nos conformar com um patamar de preços mais altos. A cadeia de fornecimento vai ter um custo mais alto, e isso vai ser perene. Essa situação que você tinha e que era conjuntural, de aumento de preço, vai se tornar estrutural", disse Gannoum.
Os custos em alta colocam pressão sobre fabricantes de equipamentos pelo mundo, ao mesmo tempo em que têm levado geradoras brasileiras, como Engie (EGIE3) e Auren (AURE3), a suspender decisões de investimento em novos projetos, porque os baixos preços no mercado de eletricidade do Brasil não são suficientes para garantir lucros no atual patamar de custos.
A fabricante de máquinas industriais Romi (ROMI3), por exemplo, relatou entrada de pedidos 85% menor na unidade de fundidos e usinados no segundo trimestre, citando "redução de novos projetos ligados à energia eólica, que diante da queda do preço da energia elétrica estão sendo revistos ou postergados".
Os custos maiores são puxados por uma demanda que deve se manter forte nos próximos anos, com países europeus apostando em renováveis para não se expor novamente à dependência do gás da Rússia, e com ambiciosas metas globais de descarbonização, incluindo programas de subsídios a energia limpa nos Estados Unidos, explicou Gannoun.
Apesar desse quadro, as renováveis se mantêm mais competitivas que fontes rivais, como usinas térmicas, porque não possuem custos com combustíveis, e porque outras formas de geração também sofreram com os aumentos de orçamentos, acrescentou ela.
A chefe da Abeeólica defende que o Brasil deveria definir rapidamente uma regulação para usinas eólicas no mar, conhecidas como offshore, devido ao grande número de investidores interessados na tecnologia, que está inclusive nos planos da Petrobras.
"Se tivéssemos um leilão de eólica offshore, teria uma disputa acirrada. Seria um leilão matador", afirmou, ao argumentar que os custos dos projetos, hoje uma preocupação, devem cair gradativamente até que o Brasil de fato tire as primeiras usinas do papel.
Um cronograma viável, segundo Gannoum, seria aprovar uma regulamentação para o setor em 2023, com um leilão de áreas no mar para projetos em 2024. Um leilão para venda da produção futura das usinas poderia ser ocorrer em 2027. "O Brasil não pode perder essa janela estreita de oportunidade de ser protagonista na transição energética", afirmou.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 10H19, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.