Por: Gabriel Ponte
O Federal Reserve deverá manter os juros americanos inalterados no atual patamar de 5,25% a 5,50% na decisão de política monetária da próxima quarta-feira, segundo o consenso da Refinitiv, diante de uma contínua pressão causada pela alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano de longo prazo, que vêm operando nas máximas em décadas desde as últimas semanas.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) deve optar pela segunda manutenção consecutiva dos juros na decisão desta semana, após dirigentes do banco central americano terem apontado em recentes aparições públicas que a alta dos rendimentos dos Treasuries já vem executando, parcialmente, algumas das tarefas do Fed, minimizando, assim, um eventual aperto adicional a ser realizado pelo Fed.
A alta dos Treasury yields contribui para a desaceleração da atividade econômica, substituindo, em parte, a necessidade de outra alta de juros. Além disso, pressiona os mercados acionários – especialmente o setor tecnológico –, além de impulsionar o dólar americano, e ampliar o spread entre os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e os de crédito privado.
Em sua última aparição pública antes do período de silêncio que precede a decisão de juros, o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou que a alta dos rendimentos das Treasuries não parece estar atrelada às expectativas de que o FOMC aperte mais os juros nos EUA, nem parece refletir expectativas de preços mais altos na economia.
Em contrapartida, Powell explicou que os investidores podem estar respondendo aos déficits fiscais produzidos pelo governo americano e às ações do Fed envolvendo seu balanço patrimonial. Desde meados do ano passado, o banco central americano tem reduzido o seu balanço patrimonial – atualmente em torno de US$7,8 trilhões – e, consequentemente, deixado de comprar títulos do Tesouro em um momento de endividamento significativo dos EUA. Dessa forma, segundo Powell, a alta recente dos yields estaria atrelada à elevação do prêmio de risco que investidores demandam para aportar recursos nesses títulos.
Entre o início de maio e o fim de outubro, os rendimentos dos títulos do Tesouro de dez anos avançaram cerca de 140 pontos-base. “O fato de o mercado de Treasuries estar proporcionando o aperto que o Fed deseja significa que o banco central pode escolher ser um pouco mais cauteloso”, apontou o economista-chefe da BNY Mellon Investment Management, Shamik Dhar, ao The Wall Street Journal.
A manutenção de juros nesta semana também deverá conceder tempo aos dirigentes para avaliarem dados econômicos de outubro e novembro antes da última decisão de juros do ano, em 13 de dezembro. Vale lembrar que em setembro os principais dados econômicos do período – Payroll, Vendas no Varejo e Inflação de Preços ao Consumidor – vieram acima do consenso.
“Com a atividade econômica e a criação de postos girando muito acima da tendência, nosso cenário-base é de que o Fed deverá estar inclinado a errar, por excesso de cautela quanto aos preços, e lançará mão de uma última alta de juros em dezembro”, apontaram estrategistas do Bank of America em relatório – o banco americano aposta em uma alta de 25 pontos-base nos Fed Funds em dezembro.
Mesmo se o Fed já tiver concluído as altas de juros, é pouco provável que isso seja comunicado de forma oficial – isso porque as autoridades preferem manter a porta aberta para eventuais altas adicionais, já que há uma resiliência surpreendente da atividade econômica nos EUA. Até dezembro, os dirigentes do FOMC poderão confirmar se o aperto nas condições financeiras foi sustentado e se o progresso nos preços continuou.
Dados do “Dot-Plot” do Fed de setembro também apontaram que os dirigentes do FOMC mantiveram a mediana das projeções para o nível terminal dos juros ao fim deste ano em 5,60%, reforçando a leitura de que uma alta adicional de 25 pontos-base da taxa-alvo Fed Funds deverá ocorrer ao fim do ano.
O FOMC inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, e deve divulgar a decisão na quarta-feira, por volta das 15h, seguida de uma coletiva de imprensa capitaneada por Powell.
(Colaboração: Luca Boni | GP | Edição: Gabriela Guedes | Comentários: equipemover@tc.com.br)