Por Lucinda Pinto
São Paulo, 25/1/2023 - A crise da Americanas deve provocar uma perda na rentabilidade dos fundos de crédito entre 1,5% e 2% em janeiro, segundo estimativa do gestor de crédito e sócio da JGP Asset Management, Alexandre Muller. A projeção é baseada no Idex-CDI Geral, índice criado pela gestora para medir o desempenho médio de fundos com alocação superior a 50% do patrimônio em ativos de crédito.
Em entrevista à Mover, Muller afirmou que após o forte impacto nos dias que sucederam a divulgação da inconsistência contábil nos balanços da varejista, o índice voltou a se recuperar e mostrou variação positiva nos últimos dois dias.
"Parece que o pior já passou e o efeito negativo começou a se dissipar", afirmou.
Desde o início deste ano e até ontem, último dado disponível, o Index acumula queda de 2,64%, sendo que somente nos dias 12 e 13 de janeiro o indicador recuou 0,60% e 1,21%, respectivamente. Ainda assim, segundo Muller, as perdas estão muito distantes do que se viu em março de 2020, quando o Index despencou 8%, pressionado pela forte onda de resgates que teve a queda da taxa Selic como pano de fundo.
Agora, os fundos de crédito são impactados pela desvalorização das debêntures da Americanas, até então classificadas como papéis de high grade, ou seja, de baixo risco. Mas muitos outros papéis sofreram desvalorização, porque o evento trouxe insegurança e resgates. Para fazer frente a esses saques, os fundos foram a mercado vender ativos mais líquidos e de maior qualidade, o que acabou alastrando o efeito negativo.
Apesar desse movimento, dados da JGP mostram que, quando se exclui as ações de Americanas, o spread médio das debêntures negociadas no mercado secundário – que é o juro pago acima da variação do CDI – subiu para 2%, ante 1,9% antes do evento envolvendo a varejista. "São medidas que mostram a funcionalidade do mercado", afirmou Muller.
Embora as condições do mercado secundário estejam caminhando para a normalidade, Muller reconheceu que os spreads devem se acomodar em patamares mais altos, o que tende a reforçar a cautela e atrapalhar novas ofertas no mercado primário.
"As emissões primárias jogam um volume muito grande sobre um mercado que está em processo de reestabelecimento. Então, é melhor esperar", afirmou.
Muller lembrou que os fundos já carregam o equivalente a R$800 bilhões em debêntures e títulos de crédito, o que, por si só, já afeta a capacidade de absorção de novas ofertas. Além disso, o cenário macroeconômico, com juros e inflação elevados, traz preocupação adicional. "O cenário macroeconômico vai impor seus desafios para as empresas", finalizou.