Por: Fabricio Julião
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros brasileira em 50 pontos-base nesta quarta-feira, assim como na reunião anterior, mas mudou o tom do comunicado na visão da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Em entrevista à Mover há pouco, ela afirmou que a redação do documento apontou que o fiscal expansionista é um risco para a trajetória de redução da Selic.
"O BC reforçou a importância da execução das metas fiscais, talvez o trecho mais ‘hawkish’ da redação, porque houve a ausência de um trecho como este no comunicado de agosto. E o fiscal mais expansionista é o que está influenciando na estimativa de grande parte dos analistas que projetam taxa de juros no patamar de dois dígitos em 2024", destacou.
No comunicado divulgado hoje, após a redução da Selic a 12,75% ao ano, o Copom destacou que "tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas".
Segundo Abdelmalack, também ficou mais claro que a trajetória da Selic deve se manter com cortes de 50 pontos-base até o fim do ano, algo que não era tratado como certo até então no mercado.
Já para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa da Quantzed, o comunicado deixou claro a contratação de mais duas quedas da mesma magnitude de hoje na Selic, eliminando totalmente a possibilidade de uma possível aceleração da queda ainda neste ano que agentes de mercado vinham precificando.
Ontem, o Copom anunciou um corte de 50 pontos-base na Selic, para 12,75% ao ano.
O mercado vinha trabalhando com a possibilidade de queda de 0,75 pontos percentuais na reunião do Copom de dezembro, o que provavelmente não acontecerá. Segundo Jorge, o comunicado eliminou essa possibilidade ao ressaltar haver ainda muita incerteza em relação ao mercado externo, além de preocupações com a resiliência da atividade no Brasil, o que pode gerar pressões sobre a inflação.
Para o especialista, o comunicado também reforçou a necessidade de haver serenidade e moderação no processo de flexibilização monetária, o que indica que o comitê será cauteloso no ritmo de corte da taxa de juros.
Outro ponto que também chamou atenção de Jorge no comunicado foi a preocupação com o ambiente fiscal, que não foi mencionada no documento da decisão anterior do colegiado.
“Eles chamam atenção justamente para essa questão do fiscal e como isso pode impactar na ancoragem das expectativas inflacionárias. Foi um comunicado bem duro com relação à inflação, ao fiscal, à atividade e ao cenário externo incerto”, explicou o especialista.