Por Bruno Andrade
O ex-CEO da Americanas (AMER3), Sérgio Rial, disse em audiência pública no Senado nesta terça-feira (28), que tinha dificuldades em obter informações com Miguel Gutierrez, o presidente da companhia que o antecedeu. Essa empresa, a Americanas, quebrou, carregando uma dívida de R$ 43 bilhões. A audiência foi criada para entender se houve fraude ou apenas erro contábil.
“Eu extraía (dos funcionários) a conta-gotas as informações do dia a dia. Não havia uma predisposição de explicar como isso aconteceu”, explicou. Rial assumiu a presidência da Americanas em 1º de janeiro de 2023 e deixou o cargo no dia 11 do mesmo mês, após descobrir um rombo inicial de R$ 20 bilhões, que foi fechado em R$ 43 bilhões no pedido de recuperação judicial. Sua permanência na Americanas, de apenas dez dias, flerta com o bizarro e coloca dúvidas sobre se ele já não sabia dos problemas e tenha aceito o posto para apagar provas, a pedido dos investidores de referência, ou se apenas deparou-se com erros contábeis.
Ao explicar sobre quando ele começou a ter acesso às informações da companhia, Rial disse que tudo era centralizado em Gutierrez. “As informações eram muito controladas por ele e por sua diretoria”, disse Rial aos senadores.
“Até o dia 26 de dezembro não se sabia prospectivamente qual seria o resultado das Americanas em 2022, até hoje não se sabe.” O resultado financeiro do quarto trimestre da companhia tinha data prevista para 29 de março, mas foi adiado e não tem uma data marcada para a divulgação.
Na audiência pública, Rial comentou que ficou sabendo do rombo no dia 4 de janeiro, depois que dois diretores afirmaram que a dívida bancária da empresa não estava posta de forma correta no balanço.
“Com a contabilização sendo feita de forma correta, a dívida bancária da empresa passa de R$ 19 bilhões para R$ 35, R$ 36 bilhões no terceiro trimestre com um patrimônio líquido de R$ 16 bilhões”, disse. “Foi a partir desse momento, que eu tive absoluta consciência de que a companhia tinha uma estrutura patrimonial de insolvência”, afirmou.
Ele comentou que assim que foi informado, passou a buscar mais detalhes sobre o assunto. No entanto, o apoio foi zero.
“Do dia 4 ao dia 11 não havia uma predisposição ‘deixa eu lhe explicar tudo o que aconteceu, deixa eu lhe explicar tudo como aconteceu e por que aconteceu’. Nada disso. Eu extraía as informações a conta-gotas dia após dia de maneira incessante com o ex-diretor financeiro.”, explicou.
Por outro lado, Rial tentou dirimir os impactos do escândalo sobre os acionistas controladores, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. “Os três grandes acionistas que deram, e dão credibilidade à empresa, se mostraram absolutamente surpresos”, disse.
“Eles não tiveram nenhuma outra ação além de falar a verdade. Não houve qualquer tipo de resistência para divulgar os fatos. Eles pediram também para eu continuar alguns dias como assessor financeiro”, afirmou. Rial ficou como assessor financeiro da Americanas até o dia 16 de janeiro.