Por Erick Matheus Nery
Os números de maio do Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) do Banco Central (BC), divulgados nesta segunda (17), assustaram os agentes econômicos com uma queda maior do que a esperada. Contudo, quando analisado profundamente, o dado expõe um verdadeiro “alerta vermelho” para setores como indústria e serviços, após o agronegócio monopolizar os holofotes nos últimos meses.
Em maio, a "prévia do PIB", como o IBC-Br é conhecido, amargou uma queda de 2%. Em janeiro e março foram registradas quedas de 0,04% e 0,15%, respectivamente. Já em fevereiro e abril, o índice cresceu 3,32% e 0,81%, respectivamente.
Ou seja, esse é o primeiro “tombo” da economia brasileira no ano. Para os especialistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ), um dos principais motivos para essa forte queda é a ausência dos altos números do agronegócio, que agora encontra-se no período de entressafra.
"O peso da atividade agrícola não deve ser tão forte nesse momento. Então, devemos ver números mais fortes nesse setor só no final do ano e, agora, volta à luz outros setores que sofrem com os juros altos no País", comenta Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
Sem o agro para puxar a economia, essa responsabilidade volta para as costas da indústria e dos serviços. "Vemos uma indústria que não contrata, vem cambaleando. O governo vem tentando fazer estímulos para o setor, mas os resultados não são instantâneos", ressalta Carvalho.
Na visão do economista, mesmo com os estímulos do governo à indústria, vide o programa do carro popular, o setor vive tempos difíceis e a resposta desses programas só deve aparecer no longo prazo.
"Lembrando que o Brasil não é uma ilha, vemos um baixo crescimento chinês, os Estados Unidos e a Europa sofrendo com um aperto monetário, então a expectativa do PIB lá fora não é crescer muito. Somos um país exportador de commodities, se lá fora ninguém desenvolve, vamos exportar cada vez menos. O Brasil vem em um bom momento, mas se a China não crescer e o mundo não voltar a crescer, devemos voltar para a estagnação", pontua.
Com esse cenário desenhado, o agronegócio poderia ajudar a impulsionar outros setores, como a indústria. Porém, guardadas as devidas proporções, não é o que ocorre na prática.
À reportagem, Carvalho exemplifica esse movimento com o próprio “boom” do agronegócio, fomentado por avanços tecnológicos com o uso de máquinas e tecnologias importadas: "Assim, o setor acaba não puxando fortemente a nossa indústria. Se essas máquinas fossem feitas aqui, aí teríamos uma relação direta entre um setor e outro, mas hoje está separado".
O Brasil é um país emergente, vive principalmente de commodities. Nos países desenvolvidos, eles tem outra lógica, estão na ponta do produto agregado. A gente produz matéria-prima, enquanto eles já estão anos luz à frente, produzindo valor agregado. São ciclos totalmente diferentes e o resultado será totalmente diferente.
Marianna Costa, economista-chefe do TC, ressalta que “apesar de não ter a mesma metodologia do PIB, o indicador pode ser considerado antecedente e nesse sentido, junto aos dados de vendas no varejo de maio, divulgados na última semana pelo IBGE, sinalizam uma atividade fraca”.
Rodolfo Morgato, economista da XP Investimentos, afirma que o resultado veio muito abaixo das expectativas e aponta um crescimento moderado na economia brasileira no segundo trimestre -- a casa e o consenso de mercado eram de uma queda de 0,1%.
"Já suspeitávamos que poderia ocorrer um 'ajuste' significativo na série de dados do IBC-Br, aproximando-o das estimativas para o PIB do 2º trimestre", complementa Morgato.