Por Bruno Andrade
O JPMorgan e o Citigroup apresentaram hoje ótimos resultados financeiros relacionados ao primeiro trimestre de 2023, mas o temor por uma crise bancária continua no radar, disseram analistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ) nesta sexta-feira (14).
O JPMorgan teve um lucro líquido de US$ 12,62 bilhões, crescimento de 52% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o Citi viu seu resultado subir 7% para US$ 4,6 bilhões.
De acordo com o analista da VG Research Guilherme Morais, o lucro líquido por ação do JPMorgan ficou 20% acima do esperado. A cifra ficou em US$ 4,10, contra os US$ 3,41 que eram aguardados.
“O aumento expressivo do lucro do JPMorgan e do Citi foi devido ao atual nível da taxa de juros dos EUA, pois durante o 1º trimestre de 2022 os juros ainda estavam próximos de 0%. Atualmente, eles estão em 4,25% ao ano, com isso bancos tiveram uma rentabilidade muito maior”, disse Morais.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, a divisão que mais contribuiu para os resultados do JPMorgan foi justamente o segmento de varejo. “Além disso, a mesa de renda fixa também ajudou positivamente com resultados bem acima das previsões”, afirmou Alves.
Ainda assim, os analistas comentaram que é cedo demais para falar que o temor por uma crise bancária nos EUA chegou ao fim. Esse receio se espalhou pelo mercado há um mês, após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB).
Segundo Fabrício Gonçalves, CEO da Box Asset Management, os grandes bancos conseguiram se mostrar resilientes após números apresentados nesta sexta, mas a situação pesa sobre os pequenos.
“Os bancos maiores e mais seguros podem ter visto um aumento na confiança dos investidores, mas os bancos menores ainda podem enfrentar desafios, o que pode ter um impacto negativo no setor bancário como um todo”, explicou Gonçalves.
Já na visão de Guilherme Morais, da VG Research, mesmo que os números mostrem um alívio de modo geral, todo o setor continua apreensivo. Os grandes bancos continuam sendo assombrados pela inadimplência.
Segundo ele, as companhias continuaram com provisões altas, dinheiro reservado para possíveis calotes. O JPMorgan registrou neste trimestre o valor de US$ 2,275 bilhões em provisões, alta de 56%.
O Citi reportou US$ 1,975 bilhões em provisões para perdas neste trimestre, enquanto para o mesmo trimestre do ano anterior a provisão foi de US$ 755 milhões.
“Ou seja, as provisões feitas neste trimestre indicam que as condições de crédito para o ano de 2023 permanecem como grande desafio”, explicou Morais, da VG Research. Sendo assim, o investidor ainda deve ter cautela ao festejar os números apresentados.
Apesar de sinais positivos aparecerem no horizonte, o clima com os pequenos e médio bancos segue pesado. Morais segue a linha de Gonçalves, e afirma que as instituições menores continuam apreensivas com o cenário de uma possível fuga de clientes para os grandes bancos. Para se ter uma ideia, houve um aumento de US$ 37 bilhões em depósitos no JPMorgan.
“O receio do mercado com os pequenos bancos é menor do que o do último mês, mas podemos considerar que o nível de desconfiança permanece acima do usual”, disse.
Para ele, esse medo exacerbado deve continuar até a divulgação do balanço do First Republic Bank, companhia que quase quebrou junto com o SVB, mas foi resgatada pelos grandes nomes do setor.
“A empresa deveria ter divulgado seus resultados na última quarta-feira, dia 12, porém o anúncio foi postergado para o dia 24”, comentou Morais, da VG Research. Ou seja, o investidor só saberá daqui a 10 dias se toda a situação foi controlada.
O especialista da Valor Investimentos, Gabriel Meira, comenta que, mesmo se tudo caminhar para um grande colapso, os bancos centrais estão determinados a estancar a sangria.
“As autoridades monetárias estão atentas e agindo rapidamente. O caso do Credit Suisse é um grande exemplo. O BC local agiu rapidamente para evitar o que poderia ter sido uma séria crise bancária”, explicou.