Por Bruno Andrade
A Petrobras (PETR4) comunicou na véspera que iniciou o processo de due diligence para analisar uma possível compra da Braskem (BRKM5). O pedido envolve uma análise mais aprofundada os balanços e a lucratividade da Braskem, para assim, a empresa compradora saber o que está adquirindo de fato.
As ações que podem ser compradas são da Novonor, ex-Odebrecht. A companhia está vendendo os ativos em meio à recuperação judicial. A Petrobras tem a preferência em comprar essas ativos por meio de um tag along assinado pelos acionistas no passado.
Segundo Arlindo Souza, analista de ações do TC Matrix, esse pedido da Petrobras já era esperado pelo mercado, principalmente após a troca de governo, visto que o espectro político de Lula é mais estatizante.
"A informação não revela nada muito novo, a Petrobras apenas sinalizou que avaliara a Braskem no processo de diligencia e se ver sentido em comprar a empresa, ela vai exercer seu direito de preferencia", disse Souza.
Ele afirma que, ainda que a proposta da Unipar seja muito interessante e benéfica para a Braskem, se a Petrobras comprar a empresa, o impacto na Braskem não seria de grandes mudanças.
"A compra da Braskem pela Petrobras é algo neutro para a petroquímica, somente ao longo da gestão do novo controlador é que saberíamos se essa foi uma boa transação ou não para a empresa", explicou.
Já para Ricardo Schweitzer, CEO da consultoria Ricardo Schweitzer, tem uma visão o oposta. Ele disse acreditar que um eventual exercício da opção de compra por parte da Petrobras é ruim para os acionistas minoritários.
"A proposta da Petrobras não dispara tag along, ou seja, as condições pelas quais Novonor venderia suas ações à Petrobras não seriam estendidas aos demais acionistas", afirmou.
Além disso, ele esclareceu que o investidor deve ter cuidado com a Braskem, visto que a empresa oferece muitos riscos no curto prazo e médio prazo.
"Não somente o mercado petroquímico é altamente cíclico - o que põe em xeque a capacidade de geração de valor a longo prazo - como existe um passivo ambiental em Alagoas cujo dimensionamento é constantemente revisto para pior", explicou Schweitzer.
No entanto, mesmo que a companhia ofereça muitos riscos para o investidor pessoa física, as grandes empresas estão disputando a compra da companhia em cada centavo. Além da Petrobras, a Unipar também já manifestou interesse.
E a negociação parecia caminhar, visto que na semana passada, a Unipar recebeu da Novonor uma sinalização de que sua proposta pelo controle da maior petroquímica da América Latina atendia aos interesses tanto da antiga Odebrecht, quanto das demais partes interessadas.
A sinalização formalizou um convite à Unipar, do empresário Frank Abubakir, para dar início ao processo de auditoria, ou due diligence, em relação à Braskem, visando apresentar uma proposta vinculante ou a negociação de documentos definitivos da oferta.
Embora neste momento não haja concessão de uma exclusividade, a Unipar informou que “juntamente com seus assessores, bancos credores, Petrobras, Novonor e demais partes envolvidas, analisará os próximos passos da operação, incluindo a assinatura de contrato de exclusividade para potencialmente dar início à auditoria na Braskem”.
Maior produtora de cloro e soda e segunda colocada em PVC na América do Sul, a Unipar ofereceu de R$36,50 por ação da Braskem. A cifra equivale a R$10 bilhões pelos 34,4% de participação que a Novonor detém na petroquímica, deixando-a ainda com uma fatia minoritária de 4%.
A Novonor também recebeu uma proposta da Apollo e da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), de R$47,00 por ação da Braskem. Desse montante, R$20,00 seriam pagos em dinheiro, R$20,00 em bônus perpétuos com taxa de 4% ao ano e R$7,00 em títulos conhecidos como “warrants” - o que tem dificultado uma estimativa precisa do valor presente da proposta, vista pelo mercado como menos atrativa.
A J&F, holding dos irmãos Batista, aparece como quarta interessada na petroquímica, embora ainda não tenha formalizado uma proposta. Nos bastidores, circula que sua oferta seria inferior, mas com pagamento à vista, o que a tornaria mais atrativa para credores da Novonor. O grupo composto por Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) visa recuperar a maior parte dos R$15 bilhões que emprestou à então Odebrecht, segundo o jornal Estado de S. Paulo.