Por Bruno Andrade
O conselho de administração do Pão de Açúcar (PCAR3) rejeitou a oferta de US$836 milhões do colombiano Jaime Gilinski para comprar a rede supermercados Éxito, mostra documento enviado ao mercado na noite desta quinta-feira (29).
"A decisão foi por unanimidade, pois entendemos que o preço ofertado não atende parâmetros adequados de razoabilidade financeira para uma transação desta natureza e, portanto, não atende o melhor interesse do GPA e de seus acionistas", disse a empresa.
Após a rejeição da oferta, o GPA seguirá com o processo de listagem de BDRs do Éxito para se desfazer do controle do grupo.
Na véspera, as ações do Pão de Açúcar subiram 13,18% e terminaram o pregão a R$ 18,29. O sócio da Valor Investimentos Gabriel Meira, disse ontem que a oferta poderia não ser vista como interessante por parte do Pão de Açúcar.
"Mesmo a proposta do colombiano sendo muito vantajosa em relação ao valor de marcado do Pão de Açúcar no Brasil, ela está 26% abaixo do valor de mercado da Éxito na Bolsa de Valores da Colômbia, que é avaliada em R$ 5,4 bilhões", disse Meira.
Ainda assim, na visão do analista de ações do TC, Malek Zein, as ações podem cair no pregão desta sexta-feira (30).
"Ontem as ações subiram forte com a oferta, eu acredito que o mercado tinha uma expectativa de aceite da oferta, e com o não, vai ficar decepcionado", disse.
No dia anterior, Zein comentou que a proposta era muito interessante para o Pão de Açúcar, visto que ao converter o valor oferecido de dólar para real, a quantia oferecida chegava a R$ 4 bilhões, que era o valor de mercado de todo o Grupo Pão de Açúcar, incluindo a rede Extra, Éxito e Pão de Açúcar.
"Ou seja, se o Pão de Açúcar aceitasse a proposta é como se toda a rede supermercados brasileira saísse de graça", disse Zein. Esse foi o fator principal para a ação ter uma alta expressiva no dia anterior.
Já Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, afirmou que a oferta colocaria liquidez relevante e de forma rápida para o GPA, que opera com cerca de R$3 bilhões de dívida líquida.
"A proposta também foi feita em um momento em que o GPA luta com a recomposição de margens, com sucessivos prejuízos acumulados nos trimestres anteriores", disse Costa.
Ele comenta também que o Pão de Açúcar tenta tracionar no Brasil seu novo modelo de negócios, focando em supermercados premium. Porém, a estratégia enfrentou dificuldades nos últimos trimestres, com reduções de preços no mix de vendas sendo realizadas para competição com outros segmentos, como o atacarejo.
"Agora, com a recusa da oferta, o GPA deve dar prosseguimos no processo de spin-off do Éxito, que também se estende de forma lenta por vários trimestres. Dado o contexto, seguimos com recomendação neutra no papel", concluiu Costa
Por fim, os analistas da XP Investimentos pediram cautela para o investidor, pois não acreditam que a ação vai se valorizar no médio e longo prazo.
"Mantemos nossa recomendação Neutra por não vemos muito espaço para reavaliação dos níveis atuais de preços, assumindo uma margem líquida normalizada ainda abaixo de 1% para 2024 e um múltiplo alvo de Preço/Lucro de 7- 8x para o GPA Brasil", disseram Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, que assinam o relatório.