Por Bruno Andrade
O Banco do Brasil (BBSA3) já renegociou R$ 4,4 bilhões em dívidas via Desenrola, disse a presidente do banco, Tarciana Medeiros, em entrevista coletiva com a imprensa nesta quinta-feira (10).
O valor elevado de renegociações do BB surpreende os agentes financeiros, tendo em vista que os demais bancos argumentaram que o Desenrola traria pouco impacto financeiro, tendo em vista que os valores das dívidas a serem renegociados são baixos.
Para a presidente do BB, esse volume das renegociações foi reflexo de uma iniciativa interna da empresa. "Fizemos um programa mais ampliado. Além de pessoa física, incluímos as pequenas e médias empresas, com essa gama maior, o volume de negociação naturalmente é maior que o dos nossos pares", disse Medeiros.
Atualmente, o Desenrola é focado na renegociação de dívidas do cliente pessoa física com duas faixas salariais. A primeira é entre um e dois salários mínimos. A Faixa 2 abrange indivíduos que ganham de R$ 2.640 até R$ 20 mil.
Contudo, Medeiros comentou que ainda não consegue definir o impacto exato desses R$ 4,4 bilhões renegociados pelo programa. "É muito cedo para falar o impacto disso no nosso resultado. Acredito nos próximos 30 dias já teremos os números", afirmou Medeiros.
Mesmo com esse forte volume das renegociações no segundo trimestre, a inadimplência no Banco do Brasil subiu 0,73 ponto percentual, indo de 2% para 2,73%.
No entanto, entre os quatro principais bancos do País vinculados à Febraban, o Banco do Brasil foi o que apresentou a menor inadimplência. No Itaú (ITUB4), o índice ficou em 3%; no Santander (SANB11), o indicador fechou o trimestre em 3,3% e, no Bradesco (BBDC4), em 5,9%.
A inadimplência tem sido o grande perigo para os bancos desde o ano passado. Por isso, o vice-presidente de Finanças e Relação com Investidores do BB, Geovanne Tobias, comentou que o indicador deve ter atingido o pico neste trimestre.
"Atingimos o que seria considerado o pico. Da carteira total, podemos esperar a estabilidade. Na pessoa física vemos uma queda na inadimplência, mas em empresas esperamos um cenário ainda complicado", afirmou.
A fala remete ao problema que os bancos vem enfrentando com a Americanas (AMER3) desde o início do ano. A varejista descobriu um rombo de mais de R$ 20 bilhões em seu balanço, o que elevou o endividamento da companhia para R$ 43 bilhões. Na época, a empresa tinha apenas R$ 8 bilhões em caixa.
A Americanas pediu recuperação judicial com a proposta de pagar essa dívida ao longo de 20 anos. Os bancos (Santander, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil) e os demais credores rejeitaram o plano de recuperação judicial e provisionaram o calote da companhia.
Sem citar o nome direto da Americanas, Tobias comentou que a alta nas provisões no segundo trimestre aconteceram justamente por causa da empresa. "Nós esperávamos que o plano de recuperação fosse aprovado em junho, e como isso não ocorreu, fizemos um novo provisionamento de parte do valor devido pela empresa", opinou.
Ele disse ainda que um acordo entre a Americanas e os credores pode ser fechando nos próximos meses, mas não deu uma data precisa.
"A gente sabe que esses processos de recuperação judicial são morosos. Ainda assim, esperamos um possível acordo entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano", complementou o executivo.
Na véspera, o Banco do Brasil divulgou os números do seu balanço com lucro líquido ajustado de R$ 8,78 bilhões no segundo trimestre de 2023, alta de 11,7% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O número ficou levemente acima da expectativa do mercado, que esperava um lucro líquido ajustado de R$ 8,72 bilhões, segundo o TC Consenso.
A margem financeira bruta somou R$ 22,8 bilhões, avanço de 34,2%. "A alta foi puxada pelo crescimento da carteira de crédito e dos títulos e valores mobiliários", disse a empresa.
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) atingiu 21,3% no segundo trimestre, alta de 0,50 ponto percentual em relação ao ano passado.
Por volta das 12h48min, as ações do Banco do Brasil subiam 0,83%, a R$ 47,11.