Por Bruno Andrade
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, prestou depoimento no Tribunal Criminal de Manhattan, em Nova Iorque, nesta terça-feira (04). O repúblicano é acusado de fazer um pagamento de US$ 130 mil para comprar o silêncio de uma atriz pornô, que o ameaçou de ir a público contar que teve uma relação extraconjugal com ele durante a campanha eleitoral de 2016.
O pagamento foi feito inicialmente pelo ex-advogado de Trump, Michael Cohen, para a atriz pornô. De acordo com o promotor do caso, Trump ressarciu o advogado como um serviço fictício prestado a ele.
“Nesse caso temos dois crimes, o primeiro é que a quantia é vista como um valor acima do permitido para uma doação de campanha e o segundo é a fraude contábil para esconder o primeiro crime”, disse o promotor a jornalistas. Trump é acusado de cometer 34 crimes no total.
Em entrevista coletiva, após Trump deixar o tribunal, seus advogados alegaram que “as acusações não se sustentam e que tudo não passa de fofoca”.
Para o ex-embaixador do Brasil em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa, o caso é positivo para o repúblicano no curto prazo. “Ele não sai muito forte, mas sai fortalecido. Trump volta a ser destaque nas manchetes, onde ele sempre quis ficar. O ex-presidente dos EUA deixa de ficar esquecido”, disse.
Outro ponto revelado por Barbosa é que o presidenciável pode usar essa tentativa de prisão para montar um discurso de vítima do judiciário. “Ele pode falar que sofreu perseguição política e montar um discurso em que a isonomia do judiciário está ameaçada”, afirmou Barbosa.
Embora o presidente americano lucre com essa situação por agora, o embaixador faz um alerta. “Não é possível cravar que isso será positivo para ele no longo prazo, pois ainda existe a possibilidade dele ser condenado e ficar preso por um período longo”, comentou.
“É pouco provável que ele seja condenado, mas se isso acontecer e for por muito tempo, não dá para saber quais serão os impactos, tudo pode acontecer”, explicou Rubens Barbosa.
Para 2024, o embaixador comenta que o caso será usado como arma discursiva por Trump e Biden. “O Biden vai usar como corrupção e o Trump com o tom de vitimização”, disse Barbosa. Ou seja, enquanto Biden vai enfatizar que Trump é corrupto por comprar o silêncio das pessoas, Trump vai dizer que foi vítima.
O embaixador ainda apontou que Biden deve enfrentar dificuldades em sua reeleição. O motivo, seria a popularidade. Biden fechou o primeiro com 44% de aprovação. Durante a inflação causada pela Guerra da Ucrânia, despencou para apenas 36% dos americanos. Agora em março, sua popularidade voltou a crescer - está em 43%, segundo pesquisa da agência Reuters.
“O número está ligado com as questões econômicas por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, que causaram um disparada da inflação”, disse Barbosa. A inflação ao consumidor nos EUA está em 6% no acumulado de 12 meses até fevereiro, dado mais recente.
Sendo assim, o descontentamento com o governo pesa e seria um fator para a população deixar de votar no democrata. Todavia, Trump ainda seria o melhor candidato para Biden. “O governador da Flórida, Ronald Dion DeSantis, é muito melhor e mais articulado que Trump, se ele ganhar as prévias do partido, Biden estará em maus lençóis”, detalhou.
Por fim, Barbosa disse que a única certeza é que a polarização política deve continuar. “A polarização vai continuar, principalmente por causa do desnível de renda e pobreza, que assola o americano médio”, concluiu Barboza.