Por: Leandro Tavares
As bolsas internacionais operam em alta nesta quarta-feira, dia mais aguardado da semana, quando o Federal Reserve vai divulgar sua decisão de política monetária. No Brasil, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic em 50 pontos-base.
A expectativa mundo afora é que o Fed mantenha os juros no intervalo entre 5,25% e 5,50% na reunião de hoje, mesmo com a inflação bem acima da meta de 2%, já que o mercado de trabalho registou um abrandamento significativo nos últimos meses, atenuando os riscos para as perspectivas de inflação a médio prazo.
O Fed elevou os juros em 11 das últimas 12 reuniões. Com a manutenção precificada pelo mercado, as autoridades teriam mais tempo para avaliar como a atividade econômica tem respondido às altas num intervalo mais longo. A dúvida sobre uma alta adicional nas reuniões de novembro e dezembro pode ser respondida no comunicado.
Em relatórios recentes, tanto o ABN-Amro como o Santander afirmam que o Fed não deve mexer na taxa até março de 2024 e que um novo abrandamento no mercado de trabalho, combinado com o declínio da inflação subjacente, fará com o que a autoridade monetária inicie o processo de corte nos juros no primeiro semestre do próximo ano.
Na Europa, os investidores digerem dados de inflação no Reino Unido e de preços ao produtor na Alemanha, que vieram abaixo do consenso, um dia antes de o Banco da Inglaterra (BoE) definir a taxa de juros.
Na Ásia, os mercados encerraram sem direção única, à espera da decisão do Fed e reverberando a decisão do PBoC, banco central chinês, de manter a taxa prime de cinco anos em 4,20% ao ano, assim como a de um ano, em 3,45%.
A manutenção dos juros chineses podem ser interpretados sob duas óticas. A primeira é salvar a economia, que vem se comportando de maneira frágil, e a segunda de ajudar o yuan, que acumula perdas ante o dólar este ano.
No Japão, um dia antes dos dados de inflação, a balança comercial teve um déficit de 930,5 bilhões de ienes no mês passado, acima da projeção de 659,10 bilhões de ienes. Já as exportações caíram 0,80% em agosto, enquanto as importações tiveram queda de 17,80% no período, ambos piores que o esperado.
A dificuldade de negócios no Japão evidencia a crise de demanda mundial, sentida principalmente nos países desenvolvidos, que são os principais compradores de produtos de alto valor agregado.
Nos EUA, além da decisão de política monetária, os investidores também vão se debruçar sobre as projeções contidas no “Dot-Plot”, a ser divulgado junto à decisão de juros. Desde o último Dot-Plot, em junho, os dados econômicos surpreenderam nos EUA, o que deve resultar em revisões para cima de diversos indicadores.
Às 15h30, o presidente do Fed, Jerome Powell, fará uma coletiva de imprensa para comentar a decisão de política monetária. “Esperamos que a mensagem seja equilibrada e muito semelhante aos comentários em Jackson Hole, uma vez que as perspectivas não mudaram desde o fim de agosto”, diz o Bank of America, em relatório de segunda-feira.
Antes disso, às 8h, será divulgado o índice MBA de hipotecas, enquanto às 11h30 o Departamento de Energia divulga o estoque semanal de petróleo, que tem consenso de uma queda de 2,67 milhões.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve cortar a Selic em 50 pbs, reduzindo a taxa de 13,25% para 12,75% ao ano, mantendo o ritmo da última decisão. A maior parte do mercado aposta na manutenção deste ritmo até o fim do ano, mas alguns economistas pensam que o passo pode ser acelerado para 75 pbs em novembro ou dezembro.
Na política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem reunião em Nova York, onde participa da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o presidente dos EUA, Joe Biden, e com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy
O Senado aprovou, na noite de ontem, o Projeto de Lei (PL) que permite a emissão de debêntures incentivadas de infraestrutura por concessionárias de serviços públicos. De acordo com o relator, senador Rogério Carvalho (PT), o PL tem potencial de alavancar R$1 trilhão em investimentos em infraestrutura. O texto voltará à Câmara.
Ontem, o Ibovespa encerrou em queda, com decisão de juros no Brasil e nos EUA no radar. No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta, em movimento de ajuste técnico, antes de Fed e Copom.
MERCADOS GLOBAIS
Perto das 07h00, o futuro dos índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 operavam em alta de 0,17%, 0,18% e 0,16%, respectivamente.
O Índice Stoxx Europe 600 subia 0,59%, enquanto o índice alemão DAX tinha alta de 0,62% e o britânico FTSE-100 tinha elevação de 0,67%. Entre os setores, destaque para o segmento de saúde e tecnologia, que sobem 0,92%.
O dólar americano operava em queda em comparação aos pares. O DXY caía 0,15%, aos 105,047 pontos. No geral, as moedas operam sem direção única, com destaque para a lira turca, que sobe 0,20%.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, ou T-Notes, operam em queda de 1 ponto-base, a 4,347%.
Na Ásia, o índice HSI de Hong Kong subiu 0,02%, enquanto o Xangai Composto caiu 0,59%. O índice Nikkei 225, da bolsa de Tóquio, caiu 0,66%.
O minério de ferro com teor de concentração de 62%, negociado na bolsa de Dalian, subiu 0,46%, às 6h00, cotado a US$119,53 por tonelada, após uma sequência de baixa, diante das dúvidas sobre a demanda na China.
O petróleo tipo Brent, que serve como referência para a Petrobras, operava em baixa de 0,94%, a US$93,93, estendo o movimento de ontem e dando uma pausa no rali recente, que fez a commodity saltar quase 27% desde as mínimas atingidas em junho.
O Bitcoin tinha queda de 1,21% nas últimas 24 horas, a US$26.979,00; o Ethereum caía 1,85% no mesmo período.
MERCADOS LOCAIS
Bolsa: O Ibovespa futuro deve abrir volátil, diante da expectativa pela decisão de juros aqui e nos EUA. Em relatório, o BB Investimentos destaca que o índice tem suporte mínimo em 114 mil pontos e resistência máxima em 128.800 pontos.
Câmbio: O dólar futuro deve abrir em alta, com investidores se protegendo antes das decisões de juros.
Juros: Os contratos de juros futuros na B3 devem continuar o movimento de alta. Os juros futuros nos EUA operam em baixa, à espera da decisão do Fed.
DESTAQUES
O deputado federal e relator do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, Danilo Forte (UB), apontou que as recentes quedas na arrecadação federal somadas às despesas já contratadas põem em risco a promessa do governo de zerar o déficit fiscal em 2024. “É difícil compatibilizar tanta despesa”. (Mover)
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou o projeto de lei que institui o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (Profert), com o objetivo de incentivar a produção de fertilizantes no Brasil. A renúncia fiscal do Profert é estimada em R$1,72 bilhão em 2024, R$1,65 bilhão em 2025 e R$1,68 bilhão em 2026. (Mover)
As ações da Instacart encerraram em alta de 12% na Nasdaq ontem, a US$33,70, na estreia da companhia nos mercados acionários. O papel chegou à máxima de US$42,95 durante o pregão. (Reuters)
A Deloitte analisou que a Oferta Pública Inicial (IPO) de companhias como a Arm Holdings e a Instacart abre espaço para uma série de IPOs que podem ser precificados nas próximas semanas. De acordo com o co-líder de serviços de IPO nos EUA da Deloitte, Barrett Daniels, a oferta de companhias ainda está acelerando. (Bloomberg)
Ofertas nos EUA podem impactar retomada de operações do Brasil. Após dois anos de atividade morna por conta do ciclo de alta de juros naquele país, a atenção está voltada tanto para a trajetória de juros quanto para a retomada de IPOs nas bolsas americanas. (Valor)
Os rendimentos dos títulos do Tesouro de dez anos renovaram as máximas desde 2007 na sessão de ontem, diante de cortes de produção anunciados pela Arábia Saudita e a Rússia. O aumento dos preços eleva temores de que a commodity em alta pressionará o Fed a lançar mão de uma alta adicional dos juros, neste ano. (Reuters)
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar o julgamento virtual sobre a abertura de novos cursos de medicina nesta sexta. O julgamento foi suspenso em 4 de setembro por um pedido de vista do ministro Luiz Fux. O relator do projeto, ministro Gilmar Mendes, votou pela continuidade de processos avançados via liminares, que aguardam apenas a visita do Ministério da Educação (MEC) ao campus e determina que a abertura de novas turmas seja feita apenas por meio do Mais Médicos. (Mover)
Shein diz que vai pagar ICMS do cliente de compras de até US$50. Rivais do varejo nacional afirmam que a empresa não pode fazer isso. Para analistas, a chinesa dobra artilharia no e-commerce. (O Globo)
A Ford chegou a um acordo, pelos próximos três anos, com os trabalhadores no Canadá para evitar uma greve, após estender as negociações por 24 horas. O sindicato pressionou por melhores benefícios de pensões, salários maiores e apoio aos trabalhadores durante a transição para os veículos elétricos. (Bloomberg)