Por Felipe Corleta e Beatriz Lauerti
São Paulo, 18/01/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje seu ataque mais forte aos mercados. Um ataque aos pilares do equilíbrio fiscal e da responsabilidade monetária. Em entrevista à Globo News, Lula disse para que não peçam a ele "seriedade fiscal" e que "a independência do Banco Central é uma bobagem. “O Banco Central independente não evitou que a inflação e os juros estejam tão altos”, disse Lula, que afirmou que duvida que o atual presidente do BC seja mais independente do que foi Henrique Meirelles, chefe da pasta em seu primeiro mandato.
Lula voltou a dizer que ninguém foi mais responsável do ponto de vista fiscal que ele na presidência, e que todos os seus governos apresentaram superávit fiscal. Ele disse que o governo precisa seguir uma política fiscal que “possa ser seguida” e que pretende “convencer a sociedade que não vai gastar mais do que arrecada”.
O presidente criticou a meta da inflação, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que hoje é de 3,25% com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Lula julgou a meta como "exagerada" e disse que ela força um aperto econômico através da alta de juros "em um momento no qual o país precisa crescer".
Lula ressaltou em seu discurso o compromisso com as demandas sociais. "O que eu quero é que as pessoas que pedem estabilidade fiscal tenham responsabilidade social".
Citando o “antagonismo entre responsabilidade fiscal e social", o presidente disse que a situação é gerada pela "ganância dos empresários" e que pretende estabelecer uma “nova relação entre capital e trabalho” no Brasil. Para Lula, a estrutura sindical do país precisa representar melhor os interesses do trabalhador e precisam haver garantias estatais de seguridade social aos microempreendedores.
Sobre Reforma Tributária, o presidente disse que a “verdadeira reforma” é a que faz os ricos pagarem mais impostos e os pobres menos. Ele afirmou que pretende fazer com que trabalhadores que recebem até R$5 mil por mês não paguem imposto de renda.
“Aumento do salário mínimo é a melhor forma de redistribuir riqueza” disse Lula, que hoje mais cedo afirmou que a renda mínima precisa crescer acima da inflação ao passo do Produto Interno Bruto.
Lula também disse que suspeita que seu predecessor, Jair Bolsonaro, sabia dos atos golpistas que aconteceram em 8 de janeiro em Brasília. Ele afirmou que não considera que Bolsonaro é “carta fora do baralho” na política, mas que ele precisa ser tornado inelegível se a investigação apontar envolvimento com os atos antidemocráticos.
Em relação à política externa, Lula disse que vê uma ameaça da “extrema direita” surgindo no mundo todo, e que pretende discutir o tema com os presidentes de outros países. Ele afirmou que terá reuniões com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos; Olaf Scholz, chanceler alemão; e Xi Jinping, presidente da China.
‘BANHO DE SANGUE’
A fala do presidente Lula já teria provocado algum impacto sobre os mercados nesta quarta-feira porque, segundo fontes, parte da entrevista - que foi gravada mais cedo - já teria circulado. Isso teria explicado a alta dos juros futuros no fim do pregão. Mas boa parte do efeito ainda será percebido na sessão desta quinta-feira. "Vai ser banho de sangue", afirma o sócio-gestor da Novus Capital, Luiz Eduardo Portella.
Para Portella, ao atacar a independência do Banco Central e dizer que uma meta de inflação de 4,50% seria melhor para o país, ele antecipou um risco com o qual o mercado esperava lidar apenas a partir do segundo semestre deste ano. "Essa fala explica a piora que se viu na parte mais longa da curva no fim do dia", diz o gestor.