Por Bruno Andrade
Começaram a ser ouvidos os primeiros convidados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada para apurar irregularidades cometidos pelo MST.
Sob um clima de tensão e gritaria, a CPI ouviu o depoimento explosivo da ex-integrante do MST Nelcilene Reis disse que teve uma relação de trabalho análogo a escravidão no acampamento gerido pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A fala foi feita nesta terça-feira (30).
Reis era uma integrante do acampamento 8 de março, localizado no distrito federal. Ela comentou que trabalhava no mercadinho do movimento das 8h às 17h.
"O MST mantinha esse mercadinho com preços abusivos e mercadorias vencidas. O dinheiro do mercadinho ia para as lideranças e nós não recebíamos salários", disse.
A ex-integrante confirmou que o trabalho no mercadinho era análogo à escravidão quando foi questionada por deputados. "Sim, a gente era obrigado a trabalhar sempre, sem nenhuma folga, podia ser o aniversário da mãe o que fosse, tinha que trabalhar e sem receber nenhum salário", afirmou Reis.
Ela também contou como passou a fazer parte do movimento, que foi via indicação de um amigo.
"Nós fomos convidados por um amigo que faz parte do acampamento 8 de março, lá eles diziam que estavam cedendo um espaço para plantar", afirmou.
Ela comentou que o movimento tinha alguns líderes e que os integrantes tinham que pagar uma taxa de R$ 10 para continuar no acampamento. "O dinheiro era utilizado para pagar o combustível dos líderes do movimento", afirmou Lucilene.
A CPI foi instaurada após o governo Lula bater recorde de invasões de terras pelo MST. Foram 16 invasões entre janeiro e março de 2023 contra 11 invasões em todo o ano de 2019.
Após a ex-integrante do MST falar sobre as mazelas causada pelo movimento, a deputado Sâmia Bonfim (PSOL-SP) usou o seu tempo para mudar o foco da CPI e atacar o relator, Ricardo Sales (PL-SP).
Ela comentou que o relator estava presente em uma vista da CPI e que ele fazia pressão psicológica sobre os integrantes do MST. "O deputado Ricardo Sales, que quer ser candidato à prefeitura de São Paulo, invadiu o barraco de integrantes do MST e dizia que o melhor era sair de lá o mais rápido possível", afirmou Sâmia Bonfim.
A deputada foi interrompida por Sales, que disse que entrou "apenas nos barracos que estavam vazios".
Ao invés de focar na convidada e nos seus esclarecimentos, a deputada do PSOL atacou novamente.
"Se quando era ministro trabalhava para defender madeireiro, agora trabalha para defender grileiro de terra", disse a deputada ao se referir ao projeto de lei que pode autorizar o governo paulista a vender terras, que são destinadas à reforma agrária, para a inciativa privada.