Por Marcio Aith
Não é preciso ter em mãos uma pesquisa de opinião para concluir que o acúmulo de denúncias contra Jair Bolsonaro (PL) afetam sua reputação, imagem e legado. Resta saber se as revelações, que vão da falsificação de comprovantes de vacinação ao furto de joias, passando por crimes eleitorais, comprometerão o desempenho da direita no pleito presidencial de 2026.
Sobre esse tema, o Faria Lima Journal (FLJ) questionou três dos principais cientistas políticos do país. Também indagou se os enroscos policiais do ex-presidente afetariam eventuais candidaturas de bolsonaristas, em especial os governadores de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
As três análises são divergentes. Antonio Lavareda, especialista em comportamento eleitoral e marketing político, acredita que “o Bolsonarismo continuará forte” e que a direita tem, para além de Tarcísio e de Zema, “outros nomes para representá-la bem”. Lavareda também questionou se as denúncias contra Bolsonaro já erodiram, de fato, o prestígio do ex-presidente. “Não há erosão rápida”, disse ele.
Claudio Couto, professor da FGV-EAESP, acredita que as denúncias contra Bolsonaro “certamente chamuscam a direita, mas não necessariamente ao ponto de inviabilizá-la como tal”. Segundo ele, “o mais provável é que Bolsonaro seja abandonado pelos políticos que ainda o endossam". Para Couto, ”Bolsonaro vai se tornando mais tóxico que útil”. Quanto a Tarcísio e Zema, diz que, “comparados com Bolsonaro, são a direita que come com talheres".
Fernando Abrucio, professor da FGV-SP, disse que, em 2026, quem tiver ficado perto do ex-presidente vai perder votos. “A direita vai demorar alguns anos para se reconstruir porque esteve muito próxima de Bolsonaro. Se o país tiver um crescimento razoável, com políticas sociais funcionando, inflação próxima da meta e mais os escândalos do bolsonarismo - que não vão parar por aqui, o lulismo ganha”.
Zema e Tarcísio fizeram parte do grupo de cinco governadores das regiões Sul e Sudeste que faltaram ao evento de lançamento, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), realizado na última sexta (11).
Além dos líderes de Minas Gerais e São Paulo, também faltaram ao evento os governadores de Santa Catarina Jorginho Mello (PL), do Paraná Ratinho Jr. (PSD) e do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB). Em comum, à exceção de Minas Gerais, todos os demais Estados das duas regiões registraram a vitória de Bolsonaro contra Lula no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022.
Dos sete governadores do Sul e do Sudeste, apenas os governadores do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), compareceram ao evento. O primeiro, por ser o anfitrião; o segundo, por ser o único líder de esquerda do Sudeste.
As ausências ocorreram após a polêmica entrevista de Zema ao Estadão, em que o líder mineiro anunciou uma frente Sul-Sudeste contra Norte-Nordeste e reforçou seu desejo de ter a direita unida contra a esquerda de olho nas eleições presidenciais de 2026.
“Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”, disse Zema ao Estadão.
“Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos.”