Por Márcio Aith
A visita do Presidente Lula à Argentina causou enorme entusiasmo em nosso país irmão. Esse movimento foi tão exagerado que o ministro da economia argentino, Sergio Massa, conseguiu contaminar um dos mais tradicionais jornais do mundo, o britânico Financial Times.
Após entrevistar Massa, o jornal publicou matéria exclusiva dando conta de que os governos de Brasil e Argentina anunciariam oficialmente, nesta semana, os trabalhos preparatórios para a criação de uma moeda comum entre os dois países, que, segundo o jornal, poderia ser a segunda maior de um bloco econômico do mundo.
De acordo com o Financial Times, a criação de uma moeda única para toda a América Latina corresponderia a 5% do PIB global. O euro representa cerca de 14% do PIB global, considerando o dólar como medida de referência.
Chegou-se até a sugestão de que a nova moeda se chamaria SUR e que circularia livremente entre o real e o peso. O objetivo principal seria diminuir a dependência do dólar, emancipando e impulsionando o comércio regional, disseram fontes ao Financial Times.
A notícia circulou como rastilho de pólvora, tanto na Argentina quanto no Brasil. O problema: estava errada.
A notícia correta é essa: os dois países estão pensando em criar uma moeda digital, virtual, que poderia ser utilizada apenas para fluxos comerciais e financeiros - no início, entre os dois países, depois para outras nações da região.
Seria uma moeda digital que diariamente calcularia o câmbio das moedas dos países, equalizando-as - na prática seria uma espécie de URV, que antecedeu o Plano Real, disse com exclusividade ao FLJ o ex-embaixador brasileiro em Washington e Londres e ex-secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Rubens Barbosa. "A ideia não é nova e não é correta", disse Barbosa, adiantando que já foi apresentada pelo ex-ministro da Economia Paulo Guedes, no início do ano, em Davos.
Haddad: "O real não vai acabar"
Chegando à Argentina, o ministro da Fazenda de Lula, Fernando Haddad, reconheceu que a criação da nova moeda não significará o fim do real brasileiro ou do peso argentino. O plano a ser negociado com o país vizinho pretende impulsionar o comércio entre as duas nações, e a união monetária impactará apenas transações comerciais e financeiras, afirmou a jornalistas.
Haddad ainda comentou sobre a situação do comércio argentino, ao mencionar conversas com o o ministro da Economia do país vizinho, Sergio Massa. "Está muito ruim, e o problema é exatamente a divisa, né?", disse. O ministro brasileiro afirmou que os esforços estão concentrados em encontrar "alguma coisa que permita a gente incrementar o comércio porque a Argentina é um dos países que compram manufaturados do Brasil e a nossa exportação para cá está caindo."
O presidente Lula tem um encontro marcado com com o líder Argentino, Alberto Fernández, nesta segunda-feira, no qual discutirão sobre a criação da moeda comum.