Educação financeira
Publicado em
26/4/2023 11:17

DFC: O que é e como fazer Demonstração do Fluxo de Caixa?

Como a empresa utiliza seu dinheiro em caixa? Confira detalhes e como interpretar a DFC, demonstração que reporta as movimentos de caixa da empresa.
Banco interno

As companhias listadas em bolsa de valores estão obrigadas ao cumprimento de algumas exigências pelos órgãos reguladores. Dentre elas, está a elaboração e divulgação de demonstrativos financeiros, material que reporta sobre a posição financeira e patrimonial da empresa. 

Neste conjunto de demonstrações, a DFC (Demonstração do Fluxo de Caixa) é uma que chama a atenção por ser exclusivamente focada em demonstrar as transações de caixa da organização.

Nesse sentido, a DFC tem algumas particularidades que a diferenciam de demonstrações como o Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício, além de também propiciar insights que são importantes para que os investidores estejam atentos na hora de interpretar. 

O que é a DFC?

O que é Demonstração de Fluxo de Caixa?

A demonstração de fluxo de caixa, ou simplesmente DFC, é um relatório de contabilidade de grande importância, pois mostra como anda a saúde financeira de uma empresa. Isto porque, na DFC conta todas as entradas e saídas de dinheiro do caixa da empresa em um certo período, além de apresentar quais foram os resultados desse fluxo.

As empresas listadas em bolsa de valores, denominadas S/A, estão regidas pelas lei 6.404/76, onde consta todos os pormenores a serem seguidos por estas organizações. Dentre essas especificações, estão aquelas relacionadas a apresentação dos demonstrativos contábeis, que são:

  • Balanço Patrimonial – BP
  • Demonstração do Resultado do Exercício – DRE
  • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido – DMPL
  • Demonstrações dos Fluxos de Caixa – DFC
  • Demonstrações dos Resultados Abrangentes – DRA
  • Demonstração do Valor Adicionado – DVA
  • Notas Explicativas

Perceba que a DFC consta no rol de demonstrativos obrigatórios para apresentação. Sua inclusão como obrigatória deu-se a partir da Lei nº 11.638/2007, quando a DFC passou a ser obrigatória para todas as companhias de capital aberto (aquelas que vendem ações na Bolsa de Valores) e, também, para todas as empresas que declaram um patrimônio líquido superior a R$ 2 milhões.

Obrigatoriedade para empresas de capital aberto

Nesse sentido, a DFC é um relatório onde consta todas as movimentações de caixa que uma empresa teve no período das demonstrações. Esse período obedece ao exercício social da organização. 

Isto porque, empresas listadas em bolsa de valores devem seguir prazos diferentes de empresas que não divulgam os seus resultados, como é o caso da maior parte das empresas. Portanto, esses prazos são divididos em:

  • Informações Trimestrais (ITR)
  • Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP)

Em cada uma dessas periodicidades haverá demonstrações que informam a posição financeira e patrimonial da empresa no referido período. No caso da DFC, as movimentações de caixa da empresa.

Ademais, é importante mencionar que além das movimentações de caixa em si, a DFC ainda pode considerar alguns outros fatores em sua elaboração, tais como as contas bancárias e aplicações com liquidez imediata feitas pela companhia.

Nesse sentido, a DFC é capaz de analisar como a empresa conseguiu ou não gerar caixa ao longo de um dado período. Além disso, também consegue demonstrar como anda a saúde financeira de uma empresa, bem como detectar possíveis erros contábeis ou fraudes no caixa.

Quais contas entram na DFC?

Contas na DFC

Um ponto interessante de se falar sobre as contas que entram na DFC, pois, apesar de estar se referindo exclusivamente ao caixa da empresa, uma conta chamada “equivalentes de caixa” também estarão incluídas.

Para efeitos de explicação, é importante mencionar que para a contabilização e elaboração de cada demonstrativo, inclusive da DFC, há uma normativa correspondente, os denominados “CPC’s” e as NBC’s.

Os CPC’s significa Comitê de Pronunciamentos Contábeis e tem como objetivo o estudo, o preparo e a emissão dos Pronunciamentos Técnicos sobre os procedimentos de contabilidade e a divulgação. Eles estão convergidos aos IFRS – International Financial Reporting Standards (Normas Internacionais de Relatório Financeiro, em tradução livre). 

Elas direcionam a decisão dos contadores mediante as transações que ocorrem nas organizações, bem como auxiliam no caráter de julgamento e decisão acerca de uma escolha contábil.

No entanto, como os CPC’s não tem poder de norma, surgem as NBC’s Normas Brasileiras de Contabilidade que consistem em um conjunto de regras regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), com intuito de balizar os conceitos e procedimentos que devem ser adotados por todos os profissionais da contabilidade.

Nesse sentido, para a elaboração da DFC, os contadores precisam se apoiar no CPC 03, Pronunciamento Técnico que direciona as definições,  mensuração e elaboração da Demonstração de Fluxo de Caixa.

Assim, no CPC 03 caixa é entendido como  o dinheiro de fato, em espécie, e os depósitos bancários disponíveis para saque. Uma definição não muito diferente do que o conhecido na realidade.

Já os equivalentes de caixa a serem considerados na DFC, são:

“Aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente conversíveis em montante conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor.”

Essas aplicações são apresentadas no balanço patrimonial, no ativo da organização, pelo valor original da aplicação mais os rendimentos auferidos mensalmente. Vale salientar que todas essas informações são obtidas nas notas explicativas da companhia.

Qual a diferença entre DRE e DFC?

DFC VS DRE

Para aqueles que não entendem tanto sobre o universo contábil, pode confundir a definição e significado da DRE com a DFC.

Este primeiro é a Demonstração de Resultado do Exercício, onde consta o registro de todas as receitas e despesas da organização no período observado (trimestral ou anual, geralmente). 

O segundo, como já falamos, é a Demonstração do Fluxo de Caixa, onde terão todas as movimentações de caixa da empresa. 

Agora, você pode estar se perguntando: mas receita e despesa não são entradas e saídas de caixa? A DRE e a DFC seriam as mesmas coisas então?

E a resposta é: não, são coisas totalmente diferentes!

Para entender a distinção entre a DRE e a DFC você precisa saber que a contabilidade é direcionada pelo regime de competência. Isso significa dizer que receita e despesa não significam, necessariamente, uma entrada ou saída de caixa. 

Para que uma receita seja registrada na contabilidade, assim como a despesa, precisam da ocorrência do fato gerador. Para efeitos de simplificação, podemos dizer que o fato gerador da receita é a entrega do bem ou do serviço (quando se transfere os riscos e benefícios) e da despesa, será o uso do bem ou do serviço (usufruto do benefício adquirido).

Receita registrada na contabilidade

Perceba que na entrega do bem ou do serviço (fato gerador que permite reconhecer uma receita), não significa que obrigatoriamente haverá uma entrada no caixa (pagamento a vista), pois pode haver, por exemplo, um pagamento a prazo. 

Com a despesa o raciocínio é igual, se a empresa pagou por um serviço ou produto mas ainda não utilizou, isto não representa uma despesa, mas sim uma “despesa antecipada”, representando um direito a uso, sendo registrado no ativo da organização. Aqui, mesmo havendo saída de caixa para pagamento da despesa, ela ainda não é reconhecida como tal.

Assim, as receitas e as despesas podem se tornar entradas e saídas de caixa em momento distinto ao seu reconhecimento. Ou seja, o caixa da organização não é uma definição de “entrada de receitas e saída de despesas”.

Nesse sentido, na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) são dispostas todas as receitas e as despesas que a empresa teve, não tendo relação direta com seu caixa, obedecendo ao regime de competência, assim como todas as outras demonstrações.

Em contraponto, a “exceção à regra” é a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC), pois é a única demonstração contábil que utiliza o regime de caixa em sua elaboração. Assim, seu resultado demonstra efetivamente as movimentações de caixa e equivalentes de caixa da organização.

Além disso, é importante saber que a DFC demonstra as movimentações de caixa em três blocos distintos: as atividades operacionais, de investimento e de financiamento.

Atividades operacionais

Atividades operacionas na DFC

O primeiro bloco de observação da DFC são as atividades operacionais, elas representam as principais atividades geradoras de receita da empresa.

Sendo assim, o montante dos fluxos de caixa das atividades operacionais é um indicador da extensão pela qual as operações da entidade têm gerado suficientes fluxos de caixa para amortizar empréstimos, manter a capacidade operacional da entidade, pagar dividendos e juros sobre o capital próprio e fazer novos investimentos sem recorrer a fontes externas de financiamento.

Os fluxos de caixa advindos das atividades operacionais são basicamente derivados das principais atividades geradoras de receita da entidade. Por exemplo:

  • Recebimentos de caixa pela venda de mercadorias e pela prestação de serviços;
  • Pagamentos de caixa a fornecedores de mercadorias e serviços;
  • Pagamentos de caixa a empregados ou por conta de empregados;
  • Recebimentos e pagamentos de caixa de contratos. 

Atividades de investimentos

Atividades de investimentos na DFC

Atividades de investimento são as referentes à aquisição e à venda de ativos de longo prazo e de outros investimentos não incluídos nos equivalentes de caixa.

Esse fluxo de caixa é importante por demonstrar a extensão que os desembolsos de caixa são feitos pela entidade com a finalidade de gerar lucros e fluxos de caixa no futuro. Isto porque somente saídas de caixa que resultam em ativo reconhecido nas demonstrações contábeis são passíveis de classificação como atividades de investimento.

Alguns exemplos de fluxo de caixa que advém das atividades de investimento:

  • Pagamentos/recebimento em caixa para aquisição/venda de ativo imobilizado, intangíveis e outros ativos de longo prazo;
  • Pagamentos/recebimento em caixa para aquisição/venda de instrumentos patrimoniais ou instrumentos de dívida de outras entidades e participações societárias em joint ventures (exceto aqueles pagamentos referentes a títulos considerados como equivalentes de caixa ou aqueles mantidos para negociação imediata ou futura);
  • Recebimentos de caixa pela liquidação de adiantamentos ou amortização de empréstimos concedidos a terceiros (exceto aqueles adiantamentos e empréstimos de instituição financeira)

Atividades de financiamento

Atividades de financiamento na DFC

Atividades de financiamento são aquelas que resultam em mudanças no tamanho e na

composição do capital próprio e do capital de terceiros da entidade. Assim, são aqueles recursos adquiridos e registrados em passivo ou patrimônio líquido, como empréstimo de financiamentos.

São exemplos de fluxos de caixa advindos das atividades de financiamento:

  • Caixa recebido pela emissão de ações ou outros instrumentos patrimoniais;
  • Pagamentos em caixa a investidores para adquirir ou resgatar ações da entidade
  • Caixa recebido pela emissão de debêntures, empréstimos, notas promissórias, outros títulos de dívida, hipotecas e outros empréstimos de curto e longo prazos;
  • Amortização de empréstimos e financiamentos.

Métodos da DFC: direto e  indireto

Métodos da DFC

Na elaboração da DFC é possível utilizar dois métodos: direto e indireto. Vejamos os dois em maior detalhes.

Método Direto

No método direto, a elaboração se inicia pela Receita do período, identificada na DRE da empresa. Assim, são feitos os cálculos das entradas e das saídas de caixa, por meio da observação das movimentações realizadas nas principais contas contábeis.

Assim, para elaboração da DFC pelo método direto, é necessário observar duas outras demonstrações, a DRE (ponto de partida) e o Balanço Patrimonial (base para comparação de contas e saldos).

Método Indireto

No método indireto, para a elaboração da DFC, parte-se do lucro líquido e em seguida se faz comparação entre os valores das contas patrimoniais para inferir se entrou ou saiu dinheiro do caixa da organização.

Assim, dado que esse modelo vai realizar ajustes de itens que impactaram o caixa indiretamente, observa-se, por exemplo, as contas: 

  • Lucro/prejuízo do exercício;
  • Depreciação;
  • Provisões;
  • Tributos diferidos;
  • Ganhos e perdas cambiais não realizados;
  • Resultado de equivalência patrimonial;
  • Entre outros.

Assim, no método indireto, na DFC é apresentada as informações do fluxo de caixa operacional evidenciados dos efeitos causados pelas transações não caixa e pelos efeitos de diferimentos por competência sobre recebimentos de caixa ou pagamento em caixa operacional.

Basicamente, a principal diferença existente no momento da elaboração desses dois métodos é quanto às informações apresentadas no fluxo de caixa operacional: no método direto é apresentado de forma direta as variações entre as entradas e saídas de caixa, e no método indireto são adicionados itens que indiretamente afetam o fluxo de caixa operacional.

Além disso, vale salientar que o método da DFC mais utilizado pelas companhias brasileiras é o método indireto.

Como fazer uma DFC?

Como fazer uma DFC

Basicamente, para fazer uma DFC você deve seguir um roteiro simples que organize as movimentações de caixa das atividades operacionais, as atividades de investimento e as atividades de financiamento. 

  • Atividades operacionais: valores recebidos à vista em vendas, recebimento de caixa de vendas a prazo, pagamento de fornecedores e compras de estoque à vista, pagamentos de despesas operacionais, de vendas e administrativas e de tributos.
  • Atividades de investimento: valores recebidos e pagos em função da venda ou aquisição de ativos não circulantes (investimentos, imobilizado e intangível). Via de regra, se o valor contábil aumentou, significa que comprou, logo, saiu caixa. Se o valor contábil diminuiu, vendemos, logo, entrou caixa. 
  • Atividades de financiamento: são valores pagos e recebidos em função da captação de recursos de fora da empresa (sócios, bancos e instituições financeiras). Assim, observa-se as variações nos financiamentos, e capital, por exemplo. Via de regra, se o valor contábil aumentou, significa que houve recebimento de recurso, logo, entrou caixa. Se o valor contábil diminuiu, houve pagamento de financiamento e encargos financeiros, logo, saiu caixa.

Tanto o método indireto quanto o método direto utilizam esse procedimento, a única diferença está na parte inicial do método indireto, onde faz-se alguns ajustes adicionando itens não caixa considerados no lucro líquido (ponto de partida da DFC).

Para saber se a DFC está correta, o artifício mais simples é comparar o valor encontrado com o caixa da empresa. Até porque, se a demonstração visa mostrar as movimentações ocorridas, para que ela esteja correta, é necessário que o valor seja igual ao caixa final reportado. Assim, como regra de bolso:

  • DFC correta no método direto: valor apurado é igual ao valor registrado em caixa no final do período
  • DFC correta no método indireto: valor apurado é igual a variação registrada no caixa entre o período inicial e o final

Conclusão

Como vimos, a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC), é um demonstrativo de contabilidade de grande importância, pois mostra como anda a saúde financeira de uma empresa. Isto porque, na DFC conta todas as entradas e saídas de dinheiro do caixa da empresa em um certo período, além de apresentar quais foram os resultados desse fluxo.

A divulgação da DFC é obrigatória para as empresas de capital aberto e pode ser elaborada pelo método direto e pelo método indireto, sendo mais usual a adoção do método indireto por parte das organizações.

Por fim, ter acesso ao DFC antes de investir em uma empresa pode ser um diferencial, pois permite que você conheça a saúde financeira da companhia antes de investir o seu dinheiro nela. Além disso, também é possível ter alguns insights interessantes como por exemplo com relação às saídas e entradas de caixa das atividades que são reportadas na DFC (operacional, investimentos e financiamentos).

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