Por Erick Matheus Nery
Para uma empresa dizer que é ecologicamente correta, não precisa de muita coisa: basta um documento bem feito dizendo que o negócio está alinhado aos princípios de ESG (Governança ambiental, social e corporativa, em português). Só que, na prática, a realidade é outra e uma gestora brasileira decidiu trabalhar para encontrar uma maneira de proteger o amanhã sem deixar os lucros financeiros de lado.
“Nos últimos cinco a dez anos, se não todas, mas quase todas as tendências de consumo que apareciam eram ligadas à sustentabilidade de alguma forma. Assim, comecei a me questionar se eram só tendências ou uma mudança de comportamento da sociedade, quando vi que a resposta era a segunda hipótese. A mesma pessoa que vai ao supermercado comprar um produto interessante alinhado a sua ética é um eventual alocador de recursos que, quando vai tomar suas decisões financeiras, pensa no retorno financeiro e também em em um retorno do ponto de vista da sustentabilidade”, detalha Guilherme Waetge, sócio-fundador da W Capital, ao Faria Lima Journal (FLJ).
Com esse raciocínio, Waetge, ex-Moelis & Company e ex-integrante do Pinheiro Neto Advogados, abriu a gestora em 2022 com uma tese de investimento que olha tanto para o crescimento dos negócios (e, consequentemente, retornos financeiros) investidos quanto para o que eles podem fazer pela sociedade.
“Estruturamos os nossos investimentos de forma que eles gerem essa externalidade positiva. É uma tese de usar a força do capital para mudar a sociedade”, destaca.
Para alcançar esse objetivo, o critério ambiental analisado na hora do investimento é a geração de dióxido de carbono (CO²) desse negócio. Ou seja, quanto a sua operação prejudica o meio ambiente e fomenta o efeito estufa.
E engana-se quem pensa que o CO² só é emitido pelos veículos. Itens como o ar-condicionado e desktops no escritório consomem mais energia e, consequentemente, culminam em mais carbono na atmosfera.
Por isso, os negócios investidos precisam desenvolver e aplicar um plano de ação para diminuírem a emissão de gases poluentes. Caso não consigam transformar esse objetivo em realidade, são obrigados a pagar uma multa destinada à compra de créditos de carbono.
“Fazemos uma auditoria e chegamos na conclusão de que a empresa está gerando x toneladas de carbono para cada R$1 milhão de receita gerada. Então, nos próximos cinco anos, que é o tempo de investimento, ela deve reduzir esse indicador. Via de regra, a mitigação passa muito por fabricação e logística. Um exemplo é que a empresa precisa trocar o caminhão a diesel pelo elétrico. É uma meta tangível, não dá para escrever um relatório bonito se você não trocou o caminhão que precisa trocar”, afirma Waetge ao alfinetar a prática de greenwashing – quando negócios mentem e divulgam informações falsas sobre as suas práticas sustentáveis.
O mercado financeiro gosta muito de números e métricas. Quando a gente vai para o ESG, principalmente no social e na governança, ele é muito qualitativo, é difícil de quantificar. Por isso escolhemos a pegada de carbono, que é possível ser metrificada e, assim, conseguimos nos prevenir do greenwashing.
Durante o período do investimento, essas metas de redução de carbono são monitoradas por um sistema em tempo real e por um consultor especializado da gestora no tema. “Então, também não dá para a empresa maquiar por muito tempo o que ela está fazendo ou deixando de fazer. No dia seguinte, já temos os dados”, avisa o gestor.
Questionado pelo FLJ, Waetge admite que não pode revelar o nome dos investidores institucionais da W Capital, mas ressalta: “Tenho quase 20 anos de carreira, então tenho um relacionamento de muito longo prazo com esses investidores. Temos uma relação muito próxima e temos essa sensibilidade de que capital não é um fator limitante para a nossa atividade. Temos bastante capital para investirmos conforme encontramos boas oportunidades”.
Devido a estrutura do investimento de private equity e da tese da companhia, a W Capital foca em negócios que faturam entre R$ 100 milhões a R$ 300 milhões por ano e que emitam quantidade relevante de carbono a atmosfera para que possam ser mitigadas – ou seja, indústrias são mais atrativas para a gestora do que empresas do setor de serviços.
Desde o início da operação, a W Capital já realizou o aporte em uma companhia: a Better Drinks, grupo brasileiro de bebidas premium que tem no portfólio marcas como os drinks prontos F!VE, a cerveja Praya, a bebida natural não alcoólica Baer-Mate, entre outras. Atualmente, a gestora tem oito negociações em andamento para novos investimentos.