Coluna
Publicado em
8/5/2023 14:58

Três motivos para alta da bolsa: Retomada de commodities, agenda fiscal e balanços

É razoável que, diante das taxas de juros elevadas a nível global, das incertezas fiscais locais, dos riscos de recessão e do aperto das condições de crédito, que a bolsa negocie abaixo da média histórica
Componente decorativo no bloco representando as cores do FLJ.
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Por Felipe Corleta


São Paulo, 8/5/2023 - A retomada das commodities no mercado internacional após um alívio de sentimento quanto à profundidade da crise bancária nos Estados Unidos, a aparente evolução programática da agenda econômica no Congresso Nacional e os resultados corporativos firmes do primeiro trimestre ajudam a sustentar uma tese de alta para a bolsa brasileira.

Nos últimos dias, os futuros de minério de ferro, petróleo e soja apresentaram recuperação, especialmente após o Federal Reserve, o banco central americano, sinalizar o fim do ciclo de alta dos juros e reduzir as expectativas de que uma recessão econômica afundasse ainda mais as cotações. Além disso, há um sentimento mais positivo em relação à crise dos bancos regionais nos Estados Unidos, o que dá suporte aos mercados lá fora.

Há, também, expectativas sobre ampliação de estímulos na China, o que sustentaria as commodities em patamar saudável para os ativos brasileiros.

No Brasil, é esperada para quarta-feira a apresentação do relatório do novo marco fiscal na Câmara dos Deputados. O relator da matéria, deputado Cláudio Cajado, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, sinalizaram recentemente estarem dispostos a elevar o rigor da nova regra fiscal, o que certamente seria bem aceito pelos investidores. 

Entre as mudanças ante o texto apresentado pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estão uma revisão das penalidades ao Executivo em caso de descumprimento das metas de resultado primário e a definição de parâmetros de crescimento da despesa para o longo prazo. Como é hoje, os parâmetros são definidos ano a ano, no projeto de Lei Orçamentária, o que daria margem para o governo Lula, por exemplo, definir uma meta de resultado primário frouxa no ano eleitoral de 2026.

Em paralelo a isso, as discussões sobre reforma tributária seguem dentro do cronograma. Sabe-se, no entanto, que é na fase de discussão do tema entre os parlamentares, que deve acontecer no final do primeiro semestre, que será possível medir as chances de aprovação de uma reforma estruturante. Isso se dá em um ambiente de dificuldade do governo em se articular junto ao parlamento, enquanto Lira demonstra obsessão pela aprovação de uma nova legislação tributária.

Os balanços corporativos do primeiro trimestre no exterior trazem um sentimento de “calm before the storm”, com números expressivos entre bancos, big techs e empresas da economia real surpreendendo os analistas. Boa parte destes projetam um “earnings recession” – recessão de lucros das empresas listadas em bolsa – a partir do segundo semestre deste ano.

No Brasil, apesar do resfriamento quase congelante do mercado de crédito em função das elevadas taxas de juros e do caso Americanas, os bancos apresentaram números fortes, retomando crescimento de rentabilidade. A Petrobras soltou uma prévia operacional estelar, e o mercado parece apenas aguardar que a nova diretoria não faça cortes profundos no volume de dividendos para destravar as ações. 

As empresas do setor de metais apresentaram resultados ruins, citando elementos não recorrentes e aumento de custos, mas negociam em múltiplos de valor empresarial por geração de caixa historicamente baixos. 

Já os papéis de empresas do setor doméstico que já reportaram apresentaram balanços bons, especialmente no setor industrial. As empresas que soltaram números ruins, como algumas varejistas, fizeram-no dentro do esperado e as ações reagiram bem. O setor de utilidades públicas têm nomes apresentando crescimento de margens e, apesar dos reservatórios cheios pressionarem os preços de energia para baixo, as expectativas são positivas para o setor.

Tudo isso, em um quadro de bolsa negociando a múltiplos historicamente baixos. Hoje, o preço-lucro do Ibovespa está em 7,1 vezes, muito abaixo da média de 10 anos de 11,2 vezes. Caso o múltiplo retornasse para a média histórica, o índice precisaria saltar para 167 mil pontos. 

É razoável que, diante das taxas de juros elevadas a nível global, das incertezas fiscais locais, dos riscos de recessão e do aperto das condições de crédito, que a bolsa negocie abaixo da média histórica. Algo próximo de 9,0 vezes os preços-lucros levaria o índice para norte dos 130 mil pontos.

Apesar dos juros sufocantes, dos riscos fiscais, da comunicação ruidosa do governo Lula, dos resgates de fundos e da recente retirada de capital estrangeiro da bolsa, o balanço de riscos parece favorável a uma reprecificação do mercado de ações. Especialmente se o avanço da agenda econômica representar espaço para cortes na taxa Selic pelo Banco Central.

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