Por: Márcio Aith
Depois de um início glorioso no Ministério da Fazenda, Fernando Haddad passa hoje por problemas. A nova fase de Haddad começou quando o presidente Lula o contrariou em público, num episódio vexatório, dizendo que a meta fiscal para 2024 não seria zero, como Haddad sustentara por meses aos agentes de mercado.
Agora, o secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, diz que “não está definida uma fonte específica” para o custeio do Fundo de Desenvolvimento Regional. “Está definida (somente) a obrigação da União de alocar recursos”, completou. As declarações foram dadas em entrevista ao Poder360.
O problema é que o próprio Haddad havia chegado a um acordo com o relator da reforma tributária, Eduardo Braga (MDB-AM), aumentando a previsão do aporte de R$ 40 milhões para R$ 60 milhões, e sinalizou que pode haver novos reajustes.
Mas as declarações de Appy jogam água gélida sobre o trato entre Haddad e Braga. Os Fundos de Desenvolvimento da Amazônia (FDA), do Nordeste (FDNE) e do Centro-Oeste (FDCO) estão entre os principais instrumentos de atuação política e de promoção do desenvolvimento regional no Brasil.
Quando vão bem, a relação entre o governo e o Congresso segue fluida. Quando vão mal...
Faltava ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, um inimigo externo para impor-se publicamente como um candidato forte e corajoso à reeleição.
Pois bem. Apareceu. O nome do inimigo é a Enel, concessionária do serviço privatizado de eletricidade e líder de distribuição de energia no Brasil.
Na última sexta-feira (3), uma tempestade deixou praticamente a cidade sem luz. Até ontem, cerca de 500 mil imóveis ainda estavam sem energia. De princípio, o prefeito não percebeu a oportunidade de colocar-se ao lado da população contra uma gigante privada.
Sem acusar a Enel, o prefeito relatou que 1.470 funcionários da prefeitura foram mobilizados para lidar com o corte e a poda de árvores, e 1.900 estão envolvidos em operações de limpeza.
Em suma, chamou o problema para si próprio, o que permitiu a seu concorrente eleitoral, Guilherme Boulos, o chamasse de “o rei do camarote”, por ter ido a eventos públicos durante a tempestade. Mas o prefeito, alheio a embates públicos, foi orientado por seu marqueteiro, Duda Lima, a partir para cima da empresa privada.
E assim o fez. Diz agora que a Enel precisa “dar as respostas que a cidade precisa”. Mudando um pouco o discurso, Nunes repetiu que muitas regiões estão sem luz por causa da queda de árvores em cima da rede elétrica, mas inovou ao dizer que a remoção pelos agentes da Prefeitura depende da desenergização pela Enel dos locais. O prefeito é, hoje, um candidato em construção.