Por Bruno Andrade
Os quatro grandes bancos divulgaram os seus balanços nas últimas semanas. Os que conseguiram controlar a inadimplência agradaram o mercado. De um lado, o Banco do Brasil (BBAS3) foi o mais festejado após mostrar a inadimplência em 2,73%. Do outro lado, o Bradesco (BBDC4) viu sua inadimplência saltar 2,4 pontos percentuais, indo de 3,5% para 5,9%.
Empresas, e não apenas pessoas físicas, prejudicaram a vida dos bancos no último semestre. Nas coletivas de imprensa em que divulgaram seus resultados, os banqueiros mencionaram uma empresa que trouxe problemas, mas evitaram ao máximo citar o nome dela.
Essa empresa, que foi chamada por eles de “grande varejista” ou “grande empresa que pediu recuperação judicial em janeiro de 2023”, foi o grande sujeito oculto na temporada de balanços. Pelo que se viu, os bancos se sentem desconfortáveis em falar sobre o assunto.
O primeiro motivo foi a alta das provisões - dinheiro separado pelos bancos para cobrir calotes. Ou seja, se o seu nome já parou no Serasa, o banco provisionou o valor da sua dívida.
Esse dinheiro para tapar o buraco acaba diminuindo o lucro do banco, por isso, CEOs das instituições financeiras se sentiram desconfortáveis ao falar desse sujeito oculto que “pediu recuperação judicial em janeiro de 2023” com R$43 bilhões em dívidas.
A empresa tinha proposto pagar todo o dinheiro devido aos bancos e outros credores em até 20 anos. No entanto, essa proposta inicial foi rejeitada. O CEO do Santander (SANB11) , Mário Leão, havia prometido na entrevista coletiva do balanço do primeiro trimestre que o acordo com a empresa misteriosa seria fechado até junho.
Pois é, cá estamos, em agosto, e esse sujeito oculto ainda não divulgou nem o balanço do quarto trimestre de 2022. E quando os CEOs dos bancos foram questionados sobre as negociações com a Americanas (AMER3) - sim, esse é o nosso sujeito oculto! - eles simplesmente saíam pela tangente.
O presidente do Santander, Mário Leão, disse que as conversas seguem construtivas, mas não deu uma data para o acordo.
"As conversas [com a Americanas] seguem construtivas e nós acreditamos que vamos fechar um acordo nos próximos meses. Não consigo precisar uma data, mas está próxima", disse Leão.
Enquanto isso, o vice-presidente de Finanças e Relação com Investidores do Banco do Brasil (BBAS3), Geovanne Tobias, mesmo sem mencionar o nome do elefante na sala, não escondeu a sua decepção de não ter fechado um acordo com a empresa em junho.
“Nós esperávamos que o plano de recuperação fosse aprovado em junho, e como isso não ocorreu, fizemos um novo provisionamento de parte do valor devido pela empresa”, desabafou.
Ele disse ainda que um acordo entre a Americanas e os credores pode ser fechado nos próximos meses, mas não deu uma data precisa.
"A gente sabe que esses processos de recuperação judicial são morosos. Ainda assim, esperamos um possível acordo entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano", acrescentou o executivo.
Eu mesmo questionei os CEOs do Itaú (ITUB4) e do Bradesco. Na minha opinião, a resposta do Itaú foi a mais frustrante. Sabe aquela resposta extremamente corporativa e engessada? Foi essa mesma que ele me deu.
“Então Bruno, estamos empenhados em fechar um acordo com a empresa. O Itaú sabe que a varejista gera milhares de empregos e o seu tamanho é relevante. No entanto, não temos uma data, e quando o acordo for fechado, tenho certeza que a Americanas vai divulgar isso via fato relevante”, afirmou Milton Maluhy Filho em resposta à minha pergunta.
Agora, o CEO mais curioso foi o do Bradesco. Ele até entregou uma data, “a partir do mês de setembro”. Mesmo que isso signifique que pode ser qualquer mês depois de setembro (outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro…), já é uma data mais completa.
"Esperamos uma evolução positiva e fechar um bom acordo [com a Americanas] a partir do mês de setembro, quando os balanços da grande varejista serão divulgados", disse o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior.
A Americanas disse em nota enviada ao mercado que deve divulgar o balanço do quarto trimestre de 2022 no dia 31 de agosto. É com essa data e expectativa que o CEO do Bradesco trabalha.
Ainda assim, eu perguntei ao líder do Bradesco se o acordo seria concluído mesmo se houvesse uma nova prorrogação do balanço da empresa, visto que a Americanas adiou as datas dos últimos três balanços.
Durante a resposta à minha pergunta, Lazari riu e mostrou um pouco de tensão, mas deu uma resposta para agradar gregos e troianos.
"Eu não sei, é um fato que ainda não aconteceu. Então é difícil a gente falar. O melhor agora é a gente buscar o melhor acordo para todos os credores com a maior velocidade possível", concluiu Lazari.
Em meio a todas essas incertezas e respostas pela tangente dos bancos, a única certeza é a de que o sujeito oculto comece a sair do anonimato no final de agosto, com a divulgação do balanço do ano passado. Com números reais, sem a fraude monstruosa revelada, a verdadeira saúde financeira da Americanas deve sair das profundezas do oceano.