Por: Márcio Aith
O PT apresentou neste final de semana um curioso texto, com críticas à austeridade fiscal do próprio governo que lidera. Uma minuta do texto foi apresentada durante evento da corrente majoritária do partido, “Construindo um Novo Brasil”, da qual o presidente Lula faz parte. Prega o documento, entre outras coisas: “O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal, ou não teremos como responder às necessidades do país”.
O documento parte do pressuposto de que um adversário, e não um companheiro de primeira linha do partido, conduz a política econômica oficial. Mas o comando é de Fernando Haddad, ministro da Fazenda e ex-candidato à Presidência pelo PT quando Lula estava preso em Curitiba.
Alçado ao comando da economia quando Lula foi eleito no ano passado, Haddad tem tocado sua gestão num clima amigável com os mercados, tendo aprovado um arcabouço fiscal há anos esperado e prometido zerar a meta fiscal no ano que vem.
A promessa do déficit zero já foi quebrada em outubro, pelo próprio Lula, em declaração pública. Agora Haddad recebe pancadas pela defesa do que os petistas vêem como excesso de austeridade.
Haddad sai machucado pelos dois episódios. Não recebeu nenhuma palavra de apoio do presidente Lula nem de outro cardeal do partido. É um demonstrativo de como o PT, quando lhe convém, joga aos leões seus próprios parceiros. É também um exemplo de como Lula trata suas lideranças demasiadamente emergentes.
E é um sinal de como o partido enxerga o futuro da economia brasileira: em menos de um ano, da promessa de zerar o déficit à defesa da irresponsabilidade fiscal.