Coluna
Publicado em
22/3/2023 13:38

Bancos Americanos: O diagnóstico de uma crise

SVB era um ponto fora da curva, mas crise no Credit Suisse foi estopim
Componente decorativo no bloco representando as cores do FLJ.
Unsplash

Por Fernando Marx

Temos visto no decorrer das últimas semanas uma mudança drástica no ambiente macroeconômico americano - por consequência, no mundial. Foi tão rápido que a narrativa de “no landing” simplesmente  evaporou.  

Vínhamos de uma narrativa de economia e inflação igualmente resilientes, numa grande dificuldade de  ancoragem das expectativas pelo ajuste de preços. Inclusive, o consenso de taxa terminal do fed funds  (juros americano) beirava os 6%. Neste cenário, o grande vilão era a temida inflação. Mas um evento  aconteceu… um Banco americano com mais de $200bi AuM (assets under management) quebrou, o Silicon Valley Bank (SVB). 

Logo na sequência, veio a preocupação aos correntistas americanos: “meu dinheiro está seguro?”. A  incerteza é a vilã do Mercado e, neste caso, a resultante é se chama Bank Run (corrida bancária) que,  por sua vez, é o maior temor de qualquer Banco, independente de sua saúde financeira. Evidentemente, o saldo garantidor de $250.000,00 por correntista, dado pelo órgão governamental FDIC, não foi suficiente  para ‘estancar’ a sangria - os saques dos correntistas desesperados.  

Em momentos de falta de lógica, analisar fatos de forma analítica é importante. Neste caso, nos cabe avaliar se a situação do SVB é similar a seus pares (Regional Banks):  

Quill Intelligence

Claramente, como a imagem mostra, o SVB era um ponto fora da curva. Entretanto, o suficiente para gerar pânico. Em paralelo, também houve um fato que podemos considerar um estopim para os Bancos Centrais ao redor do mundo: o Credit Suisse, finalmente, quebrou - para quem acompanha, era um fato dado, só faltava a data e local. Com este cenário em mente, temos uma crise bancária instalada e um fator recessivo muito forte. Mais forte, inclusive, que a antiga narrativa de ‘no landing’, afinal, o crédito  fica escasso nesse cenário. Sem crédito, sem crescimento.  

Para se ter uma noção da força recessiva deste episódio, as condições financeiras apertaram tanto que  equivalem a um aumento de 1,5% do Fed Funds: 

Game of trades

Como em toda crise financeira, a atenção do Mercado se volta para o FED. A curva, que outrora pedia  0,5bps de aumento de juros, agora pede 0,25bps - e ainda precifica cortes neste corrente ano. Apesar de  não ser um fator sistêmico de um risco inerente aos Bancos, tal como foi no subprime, temos um fato: o  efeito da alta de juros na economia real vai aparecer de agora em diante. E, com isso, os ‘corpos boiando’  vão continuar aparecendo.  

Consequentemente, vai chegar o momento de corte de juros nos EUA. Historicamente, quando  chegamos nesse ponto, é um ponto de virada onde começa a existir a necessidade de voltar a estimular  a economia, mesmo que em doses pequenas. De forma bastante irônica, o mercado tende a marcar  fundo apenas depois deste marco - não antes. Na verdade, se formos analisar o retrovisor,  provavelmente estamos perto de mais um clássico ‘bear market rally’. Em 2007, por exemplo, este rally  representou uma alta de ~15% no S&P500 e aconteceu após a quebra do Bear Stearns. 

Game of trades

A conclusão que podemos ter é que não estamos, ainda, no estágio do ciclo onde o S&P500 faz fundo.  Tampouco estamos vivenciando uma grande desaceleração econômica, na verdade, esta começa a  entrar no radar agora, com uma possibilidade. Naturalmente, o efeito do juros no tempo continuará  fazendo suas vítimas, mas ainda temos uma longa jornada pela frente.  

Ainda veremos muitos momentos de otimismo econômico e possíveis rallies nas bolsas globais,  entretanto, nada muda o fato de que o investidor deva ter cautela - embora esta não seja impeditiva de  surfar grandes oportunidades de investimento em prazos menores, tais quais são os Bancos hoje. O  diagnóstico da situação macroeconômica dentro do contexto apresentado aponta que pode ser a classe  de ativo que mais irá se beneficiar de um FED mais "dovish". Entretanto, não muda o fato do alarmismo que  devemos ter para prazos maiores.

*O conteúdo da coluna é de responsabilidade do colunista e não reflete o posicionamento do FLJ.

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Foto panorâmica da tão famosa Faria Lima