A análise e seleção de oportunidades em mercados privados – private equity e venture capital – se caracteriza por ser uma verdadeira abordagem investigativa e profunda das empresas. Sem dúvidas, o método de escolha de empresas para investimentos nesse mercado varia entre as diferentes gestoras, refletindo as abordagens de seus profissionais e suas teses de investimento únicas. Contudo, apesar dessas variações, há um objetivo comum entre elas: identificar e investir em companhias – e pessoas – excepcionais, que gerem retornos significativos para os investidores e que estejam alinhadas com a construção do portfólio.
Embora a análise de ações de empresas listadas em bolsas de valores ou capital fechado compartilhem objetivos similares e possam parecer semelhantes à primeira vista, essas atividades apresentam características e desafios distintos.
Na análise de empresas públicas, investidores têm acesso a muitas informações claras e de qualidade, reforçadas por normas contábeis estritas e uma cultura de transparência inerente às bolsas de valores. Já no caso das empresas privadas, os analistas muitas vezes enfrentam a escassez de informações disponíveis, além de uma má qualidade das mesmas. O ambiente menos regulado leva a práticas de contabilidade menos padronizadas, dificultando a comparação entre organizações.
O quesito precificação do ativo – quanto o negócio vale – também precisa ser discutido. Em instituições privadas, o preço é estabelecido através de negociações diretas, fundamentadas em avaliações conduzidas internamente ou por consultores externos. Essa abordagem contrasta com a dinâmica do mercado de ações públicas, onde a precificação reflete a constante percepção coletiva dos investidores, e está sujeita a flutuações contínuas. Diante disso, gestores de PE/VC, têm a possibilidade de acessar oportunidades de investimento mais assimétricas – com potenciais de retorno que justificam seu perfil de risco mais elevado, enfatizando a importância de uma diligência detalhada.
O êxito das estratégias de investimento depende, em grande parte, da habilidade do gestor em realizar uma análise detalhada e criteriosa das empresas antes de comprometer recursos. Em private equity e venture capital, esse processo geralmente é segmentado em várias fases. Ao mesmo tempo, dado ao elevado volume de companhias a serem analisadas, os gestores devem gerir bem os recursos gastos na análise de cada negócio, visando reprovar o mais cedo possível aquelas que não sejam boas.
À medida que uma oportunidade de investimento avança pelo funil, mais recursos são despendidos na respectiva análise, que torna-se mais profunda e abrangente, cobrindo diversos aspectos do negócio. Em um primeiro momento, se mostra relevante a compreensão do processo de originação de oportunidades e a dinâmica do topo do funil, que inclui o importante conceito de tese de investimento.
Existem várias maneiras pelas quais as gestoras podem estabelecer um vínculo com empresas. As abordagens comuns incluem o recebimento de apresentações de negócios (pitches) através de intermediários de M&A, o contato direto feito pelos empreendedores ou a busca ativa por oportunidades por parte da gestora.
Quando inicia-se o diálogo entre ambas, a etapa inicial consiste em uma avaliação preliminar para assegurar que a companhia corresponde à tese de investimento – conjunto de critérios e expectativas definidos para orientar suas decisões de investimento. As gestoras frequentemente se concentram em segmentos de mercado e geografias específicos, e em negócios em diferentes fases de desenvolvimento. Essas preferências influenciam diretamente fatores como o perfil de risco do investimento e o montante de capital necessário.
As equipes dessas gestoras são geralmente compostas por especialistas com conhecimento aprofundado nos setores de interesse. Por outro lado, investidores individuais, particularmente os chamados anjos, geralmente escolhem investir em setores que lhes são pessoalmente familiares, baseando-se em sua própria trajetória e expertise profissional para orientar suas decisões.
Por exemplo, dentro do setor agrícola, podemos ter diferentes teses: um fundo de private equity investindo em grandes fazendas no Brasil, um fundo de venture capital focado em tecnologias agro (agtech) na América Latina ou um fundo de crédito especializado no setor agrícola brasileiro.
Em suma, análise e seleção de oportunidades em mercados privados exige uma abordagem altamente criteriosa, saindo do “óbvio” e mergulhando nas características únicas das empresas. Este processo, quando bem feito, é o fruto do êxito nesse ambiente desafiador, permitindo que gestores maximizem retornos enquanto mitigam riscos dos seus investidores.